
Brasília, 18 mai 2025 (Lusa) – Uma organização não-governamental brasileira vai doar livros à Guiné-Bissau em língua portuguesa, com a primeira remessa de 200 a chegarem já esta semana, com foco nas mulheres e na literatura africana.
“Estamos a pedir livros de literatura, equidade de género, racismo e antirracismo, ‘mulherismo’ e feminismo, meio ambiente, ‘decolonialidade’, história política, livros de filosofia, ciências sociais em geral”, disse à agência Lusa a diretora executiva da Justiça Global, Glaucia Marinho.
A Justiça Global lançou uma campanha de doação de livros para apoiar a criação da Biblioteca Bindeger, em Bissau, em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher e Género, numa iniciativa que surgiu, explicou a responsável, após uma missão da organização ao país em janeiro, no âmbito de um projeto com a ONU, para incentivar o uso de mecanismos internacionais de defesa dos direitos humanos pelas organizações da sociedade civil guineense.
“Uma demanda das organizações era de livros de literatura, de história da África, de livros feministas, de ‘mulherismo’ africano, dos processos de independência”, afirmou.
A primeira doação de cerca de 200 livros, oferecida principalmente por editoras brasileiras, será enviada na próxima semana, aproveitando a deslocação de duas investigadoras da Justiça Global à Guiné-Bissau.
Glaucia Marinho detalhou que a sua equipa identificou que “o acesso a livros na Guiné-Bissau é muito escasso, de livros em língua portuguesa”, e que “algumas das obras precisavam de ser importadas, inclusive de Portugal, o que encarecia muito, [no câmbio do] valor do euro para a moeda da Guiné-Bissau”.
A campanha, inicialmente focada na Biblioteca Bindeger, também apoiará posteriormente o movimento estudantil Magne Bissau.
“A ideia é criar uma parceria entre a sociedade civil do Brasil e da Guiné-Bissau […], mas mais do que isso, criar laços de solidariedade e apoio mútuo.”
Mas não só, até porque o projeto procura ressignificar a história partilhada entre o Brasil e a Guiné-Bissau, marcada pela colonização e pela escravatura.
“Fomos ligados pela história da colonização, da escravidão, mas agora estamos num momento de ressignificar essa história e pensar uma história de parceria, de irmandade”, frisou a responsável brasileira, considerando ainda que a realidade dos direitos humanos na Guiné-Bissau, especialmente das mulheres, é grave e precisa de atenção e apoio.
“A situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau ainda é muito triste, como no Brasil, mas numa situação infelizmente um pouquinho mais emergencial”, disse.
A campanha prevista para terminar inicialmente na sexta-feira foi estendida.
Na semana passada, uma equipa do Ministério da Igualdade Racial do Brasil esteve na Guiné-Bissau, tendo assinado dois Memorandos de Entendimento com a Universidade Amílcar Cabral (UAC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), com o objetivo de fortalecer o Programa de Intercâmbios Sul-Sul.
Os memorandos preveem a elaboração de agendas de trabalho conjuntas, promoção de eventos, capacitações, intercâmbios e pesquisas na área de combate ao racismo e promoção da igualdade racial.
A comitiva também foi recebida por diversas autoridades, incluindo o ministro da Educação da Guiné-Bissau, Herry Manel, e a embaixadora do Brasil no país, Cláudia Maciel.
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