
A retórica do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, sobre o contrabando de fentanil vindo do Canadá, como justificação para a imposição de tarifas punitivas, não coincide com as últimas conclusões do seu próprio Governo.
Durante uma audição do Comité de Inteligência do Senado, a 25 de março, a diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, confirmou que o Canadá nem sequer foi mencionado na lista de países que representam uma grande ameaça relacionada com drogas na avaliação anual de ameaças.
O senador democrata Martin Heinrich, do Novo México, que levantou a questão, pareceu surpreendido ao apontar que a dura realidade de Trump não corresponde aos factos apresentados pelos principais responsáveis da inteligência.
Nos dados de 2024 da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, revela-se a apreensão de menos de 45 libras de fentanil na fronteira norte, comparado com mais de 21 mil libras na fronteira sul.
Apesar dos factos, o Canadá tem seguido a narrativa de Trump, respondendo de forma firme ao investir mais de 1 mil milhão de dólares em novas medidas de segurança para combater o tráfico de drogas ao longo da fronteira Canadá-EUA.
O Canadá nomeou um novo ‘czar do fentanil’, classificou os cartéis mexicanos como grupos terroristas e lançou uma força-tarefa conjunta Canadá-EUA para combater o crime organizado, o fentanil e o branqueamento de capitais. Foram mobilizados mais helicópteros e drones e mais oficiais foram encarregados de guardar a fronteira.
No entanto, especialistas em ciência política alertam que, ao fazer isso, a relação do Canadá com os EUA permanece altamente vulnerável, especialmente quando os factos contradizem diretamente as alegações do Presidente. Os especialistas indicam que aceitar as alegações de Trump e tomar medidas torna o Canadá um país suscetível de ceder a pressões.