Jason Morgan fala ao CMC sobre a nova Câmara de Comércio Portugal-Canadá

O comércio entre o Canadá e Portugal já soma 3,7 mil milhões de dólares, e a nova Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Canadá quer fortalecer ainda mais essa relação. Com o objetivo de apoiar empresas e impulsionar investimentos transatlânticos, a organização pretende facilitar negócios e promover novas oportunidades comerciais.

Em entrevista ao Correio da Manhã Canadá (CMC), Jason Morgan, vice-presidente da organização, explica a importância da iniciativa, os setores que mais podem beneficiar e os desafios que ainda existem. O evento de lançamento terá lugar em Montreal, a 27 de março, e outros devem seguir-se em Toronto e Vancouver.

 

Correio da Manhã Canadá: Em que consiste esta organização?

Jason Morgan: O objetivo da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Canadá é ajudar a fomentar as relações económicas e comerciais entre os dois países. No atual contexto das relações comerciais a nível mundial, especialmente entre os EUA e o Canadá, bem como os EUA e Portugal, acreditamos que o momento é mais oportuno do que nunca.

 

CMC: Esta iniciativa foi criada em resposta às tensões comerciais entre o Canadá e os EUA?

JM: Não, estava planeada antes. Já estamos a trabalhar neste projeto há mais de um ano. A nossa homóloga portuguesa, a Câmara de Comércio Portugal-Canadá, foi lançada no ano passado. No entanto, dado o contexto atual, estamos a tentar acelerar o cronograma, porque acreditamos que esta câmara pode preencher uma lacuna agora, mais do que nunca.

 

CMC: Falou da sua homóloga portuguesa. Como é que esta nova câmara vai diferir dessa e de outras organizações existentes?

JM: Planeamos trabalhar em estreita colaboração com a nossa ‘irmã’, que tem sede em Lisboa, bem como com a AICEP, para aumentar o comércio bilateral entre o Canadá e Portugal, que já soma 3,7 mil milhões de dólares. É um projeto de longo prazo. Pretendemos ajudar no desenvolvimento de missões comerciais para o Canadá e para Portugal, ajudando empresas que queiram expandir os seus negócios.

 

CMC: Como é que as empresas podem contactar-vos?

JM: Por agora, podem visitar o nosso website, em www.portugal-canada.ca. Temos também o evento de lançamento no dia 27 de março no Consulado Geral de Portugal em Montreal. Acredito que também teremos eventos em Toronto e Vancouver. O evento em Toronto deverá acontecer por volta de abril e, em Vancouver, mais para o meio do ano. O nosso objetivo é ter representação em todo o país. O website é a plataforma onde as pessoas podem aderir à câmara e interagir connosco. Também estão convidadas a participar nos eventos que organizaremos nestas três cidades.

 

CMC: O evento de lançamento requer inscrição prévia?

JM: Sim, podem contactar-nos através do website. Todas as nossas plataformas de redes sociais também serão lançadas a tempo do evento no final deste mês, e teremos todo o gosto em ajudar na inscrição. Teremos a presença do embaixador, do cônsul-geral, da AICEP, e convidaremos todas as principais empresas que interagem de ambos os lados do Atlântico.

 

CMC: Dado o atual foco do Canadá na diversificação do comércio, prevê algum tipo de incentivo governamental para as empresas que pretendem expandir-se para Portugal?

JM: Acredito que há vontade de fortalecer as relações entre a Europa e o Canadá. Já temos um acordo de livre comércio, além de um volume significativo de trocas comerciais de ambos os lados. No entanto, há fatores a considerar, como a proximidade entre Halifax e Sines, que estão a apenas 4.400 quilómetros de distância. Isso faz do porto de Sines um dos portos europeus mais próximos de Halifax. Com o tempo, acredito que conseguiremos expandir ainda mais essa relação, dado que o Canadá, Portugal e, por extensão, toda a Europa, são parceiros comerciais naturais.

 

CMC: O que torna Portugal uma porta de entrada “natural” para os bens e serviços canadianos na Europa?

JM: A proximidade, como mencionei, é um dos fatores mais importantes. Não há fronteiras. Não há outros países entre nós, apenas o Oceano Atlântico. Portanto, naturalmente, quando se trata de comércio marítimo, o Canadá e Portugal poderão entregar mercadorias um ao outro de forma muito mais fácil do que muitos outros países. Além disso, há uma população considerável de descendentes de portugueses, tanto em Montreal e Toronto, como noutras zonas do Canadá. Por outro lado, nunca houve tantos canadianos, mais do que em qualquer outro momento que me recorde, a viajar para Portugal e a estabelecer relações no país. Acredito que esta é uma ligação natural que facilita o desenvolvimento do comércio.

 

CMC: Quais são os setores que mais vão beneficiar desta nova câmara?

JM: Algumas das principais áreas em que já temos comércio e desenvolvimento incluem a aeroespacial, a agricultura e o turismo. Muitas empresas portuguesas também estão bastante envolvidas no lado canadiano. Sei, por exemplo, que a Sonae tem um grande investimento no Quebec. As companhias aéreas também estão a procurar expandir o comércio entre os dois países. Há um enorme potencial de crescimento, inclusive para se tornarem ‘hubs’ para outras cidades europeias e norte-americanas. Já existem três ou quatro grandes companhias aéreas que operam entre os nossos países. De facto, o céu é o limite para a colaboração entre o Canadá e Portugal e para o crescimento do comércio. O nosso primeiro objetivo é expandir a nossa base de membros. A seguir, queremos compreender em que áreas as empresas mais necessitam do nosso apoio, seja na adaptação às regulamentações, no processo de estabelecimento ou no acesso a financiamento, parcerias estratégicas e apoios governamentais. Acredito que é precisamente neste ponto que a câmara pode fazer a diferença.

 

CMC: Ambos os países têm sido palco de instabilidade política. Acha que isso pode afetar as relações comerciais?

JM: Acho que não. Ambos os países estão prestes a ter eleições. A política faz parte. Não somos uma organização política. Estamos aqui, independentemente de qual governo esteja em funções.

 

CMC: Existem outros obstáculos que possam afetar o comércio entre o Canadá e Portugal? Como planeiam resolvê-los?

JM: Quando se abrem novos mercados e novas relações comerciais, o mais importante é quebrar hábitos e garantir que a logística funcione. Obviamente, os canadianos tendiam a achar mais fácil exportar para os EUA, onde podiam apenas pôr os produtos num camião e atravessar a fronteira. Esses serão provavelmente os obstáculos que vamos tentar resolver primeiro: tornar a logística mais fácil para esse comércio.

 

CMC: Que mensagem tem para as empresas canadianas e portuguesas que hesitam em explorar estas novas oportunidades comerciais?

JM: Eu diria que devem sair da zona de conforto. Acreditamos que esta é uma parceria natural e uma relação que vai crescer com o tempo. Por isso, visitem o nosso website, venham aos nossos eventos, falem connosco, digam-nos por que têm dúvidas e teremos todo o gosto em trabalhar convosco para as resolver.