
O Canadá assinalou o primeiro Dia Nacional da Verdade e da Reconciliação, em homenagem aos sobreviventes indígenas. O Governo federal anunciou o novo feriado em junho deste ano.
As comunidades de todo o Canadá celebraram o primeiro Dia Nacional da Verdade e da Reconciliação, homenageando os sobreviventes indígenas e crianças que desapareceram do sistema escolar residencial.
A música estava programada para tocar às 14h15 em Kamloops, onde um Governo das Primeiras Nações anunciou, em maio, ter descoberto 215 sepulturas não marcadas de alunos indígenas no local de uma das maiores antigas escolas residenciais.
Desde então, várias outras nações indígenas relataram ter encontrado sepulturas não marcadas em antigos locais de escolas residenciais com a mesma tecnologia usada em Kamloops, levando a pedidos de justiça que se foram alargando em todo o mundo.
O Governo federal anunciou o novo feriado em junho deste ano para comemorar a história e os impactos contínuos das instituições administradas pela Igreja Católica, onde crianças indígenas foram arrancadas das famílias.
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, disse que o legado dos maus-tratos aos povos indígenas é um fardo que todos os canadianos devem enfrentar.
“O Dia Nacional da Verdade e da Reconciliação não é só um dia para os canadianos indígenas, é um dia para todos os canadianos”, disse o líder do Governo federal.
“Neste dia, reserve um momento para ouvir as histórias de um sobrevivente, de um ancião indígena que partilha as suas experiências neste país. E saiba que essa história, a história deles, é a sua história também.”
Doug Ford, premier de Ontário, deixou uma declaração no website do Governo provincial, destacando que “os povos indígenas suportaram a dura realidade e sentiram o impacto das escolas residenciais durante gerações. Já passou a hora de todos os cidadãos de Ontário reconhecerem essa mancha negra na história e agirem.”
Terry Teegee, chefe regional da Assembleia das Primeiras Nações de British Columbia, disse que é um dia para refletir sobre uma história terrível e também para pensar sobre como lidar com os efeitos de 150 anos de políticas de escolas residenciais que tinham como propósito “matar a indigeneidade na criança”.
A última escola residencial no Canadá foi fechada em 1996.
Teegee disse que gestos, como o reconhecimento de terras indígenas, bandeiras a meia haste para homenagear vítimas de escolas residenciais e um pedido de desculpas da Conferência Canadiana de Bispos Católicos, são necessários, mas que é preciso fazer muito mais.
“Isso não muda o amanhã para um indígena que está a lidar com vícios ou problemas de saúde mental por causa das escolas residenciais.”
O Governo canadiano está em processo de alinhar as leis com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
Teegee disse que vê a reconciliação como uma mudança nas relações entre as nações indígenas e os governos para reconhecer a soberania e autodeterminação dos Povos Indígenas sobre os territórios e assuntos.
Trata-se de criar espaço “para sermos as primeiras nações, sermos indígenas e estarmos num lugar que respeite a nossa identidade e quem somos”, disse ainda o chefe regional da Assembleia das Primeiras Nações de British Columbia.