MOÇAMBIQUE/ATAQUES: PAÍS DEVE GERIR APOIOS PARA EVITAR “SALADA DE INTERVENÇÕES” – PR

Maputo, 16 dez 2020 (Lusa) – O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu hoje que o país precisa de saber gerir as ofertas de apoio internacional para combater a insurgência armada em Cabo Delgado, norte do país, para evitar criar uma “salada de intervenções”.

“Estamos a receber intenções de ajuda a Moçambique de muitos países, mas muitos mesmo”, da Europa, Ásia, Américas e África, incluindo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), disse hoje no parlamento.

“Precisamos de saber como gerir [todas as ofertas], sob risco de estarmos a criar uma salada de intervenções em Moçambique”, referiu.

Falando durante a sessão de informação sobre o estado da Nação, no parlamento moçambicano, o Presidente acrescentou: “Estamos a interagir com estas vontades todas”, sublinhou.

Na mesma sessão, a propósito das relações internacionais, disse que Moçambique “não tem inimigos no mundo” e que granjeia de “uma certa aceitação e simpatia universal”.

Seja de que maneira for, serão as Forças de Defesa e Segurança (FDS) do país a estar na linha da frente do combate, destacou.

O Governo “assume o compromisso de intensificar a formação e reequipamento das FDS em todas as especialidades” ao mesmo tempo que prossegue “a cooperação internacional para combate ao terrorismo, visando sempre a preservação de interesses nacionais”, disse.

“Precisamos de desenvolver internamente as nossas habilidades”, mencionou, acrescentando: “Seremos nós [a estar] na primeira linha de defesa da nossa pátria, ninguém o fará por nós, sem interesse”.

A propósito dos ataques em Cabo Delgado, Filipe Nyusi iniciou a intervenção de hoje no parlamento com uma homenagem “aos 53 jovens de Xitaxi”, aldeia da província nortenha, abatidos pelos rebeldes em abril.

O Presidente classificou-os como “verdadeiros mártires, barbaramente chacinados por terroristas por se recusarem a ser convertidos em assassinos dos seus próprios irmãos” – ao mesmo tempo que homenageou os elementos das FDS abatidos em combate e os civis mortos.

A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 571 mil pessoas deslocadas (número atualizado hoje pelo chefe de Estado), sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

A província está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.

Durante a informação que prestou hoje sobre o combate à insurgência, Nyusi disse que o problema tem mais de três anos, remontando a 2012, com a intervenção desestabilizadora de um tanzaniano – Abdul Chaculo, referiu – que apelou à insurreição contra o Estado e contra a norma islâmica, recrutando seguidores.

Um movimento que se conseguiu “conter até 2017”, disse hoje o chefe de Estado moçambicano.

Em 2017, irromperam os ataques armados, em Mocímboa da Praia, e, desde então, entre os terroristas capturados ou mortos em combate pontificam tanzanianos, congoleses, somalis, ugandeses, quenianos e moçambicanos, além de elementos de outras partes do mundo.

“As lideranças são maioritariamente estrangeiras”, referiu, sobretudo tanzanianos, referindo vários nomes e dando-os como abatidos em combate.

Os jovens moçambicanos são recrutados nas províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, com destaque para os distritos do litoral, e também na província interior do Niassa.

As pilhagens e o crime organiza constituem fontes de financiamento, mas a fuga a população e as operações das FDS estão a limitar a logística dos insurgentes, sublinhou.

O Presidente moçambicano saudou combatentes veteranos que têm orientado jovens soldados durante as operações na província.

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