QUE RUMO PARA A DIREITA DE PORTUGAL E DO CANADÁ?

Correio da Manhã Canadá

Quase sete mil quilómetros separam Portugal do Canadá, mas há alturas em que os países parecem transcender barreiras geográficas, fenómeno, em grande parte, impulsionado pelos luso-canadianos. Também este jornal, ao reunir numa só plataforma os principais acontecimentos de ambas as nações, contribui para essa aproximação, fomentando até comparações inesperadas entre os dois países.

Esta semana, é altura de comparar a conjuntura atual de dois partidos políticos: o português CDS-PP e o canadiano Partido Conservador, analogamente posicionados no espetro político da direita à centro-direita. Por “ironia do destino”, ambos têm enfrentado desafios parecidos, ainda que com manifestas particularidades.

Face à derrota histórica do CDS-PP nas legislativas, que de 18 passou a ter apenas cinco deputados no Parlamento, Assunção Cristas anunciou a sua saída na própria noite eleitoral, assumindo “o resultado com humildade democrática”. Já o anúncio de Andrew Scheer tardou em comparação ao de Cristas, mas acabou por chegar, sob a alegada vontade de pôr a sua “família em primeiro lugar”.

Nesta comparação, há desde logo uma diferença gritante a referir: apesar de próximos no que ao posicionamento político respeita, em Portugal, o CDS-PP nunca elegeu um primeiro-ministro, tendo integrado governos apenas no formato de coligação. No Canadá, pelo contrário, o Partido Conservador é o segundo mais importante.

Ainda que se trate de um partido estruturalmente mais pequeno – e, por isso, com ambições, necessariamente, muito diferentes – é seguro dizer que, em Portugal, o CDS-PP está em “piores lençóis”. No Canadá, Scheer não foi eleito primeiro-ministro, mas ganhou o voto popular e ainda assistiu ao aumento dos assentos conservadores na Câmara dos Comuns, de 99 para 121.

O CDS-PP vai à frente do Partido Conservador no que respeita à nomeação de um novo líder, tendo feito manchetes este fim de semana, com a eleição de Francisco Rodrigues dos Santos, um jovem conservador de 31 anos. Prestigiado pela lista “30 under 30” da Forbes em 2018, o advogado é contra a despenalização do aborto e os casamentos homossexuais, ainda que garanta não querer “desenterrar” esses “dossiers”.

Enquanto em Portugal se procura ultrapassar a “crise da direita”, com o PSD também enfraquecido parlamentarmente, no Canadá, os conservadores preparam-se para as eleições internas, marcadas para junho. Rona Ambrose, Peter MacKay e Pierre Poilievre são alguns dos nomes confirmados, numa altura em que os canadianos parecem não querer repetir a “fórmula Scheer”.

No rescaldo desta dinâmica, impõe-se a pergunta: que rumo para a direita em Portugal e no Canadá?