ENTRE CATÓLICOS E PROTESTANTES

Correio da Manhã Canadá

Catarina de Bragança, rainha consorte de Inglaterra, Escócia e Irlanda, entre 1662 e 1685, tornou-se numa figura central nas relações de Portugal com o Reino Unido, pelas ideias e marcas que deixou para as gerações vindouras. Nunca foi uma rainha querida e estimada pelo povo britânico, por não ter negado e rejeitado a sua ascendência e inspiração católica. Pelo contrário, os norte americanos dedicaram-lhe a mais elevada popularidade ao ponto de Nova Iorque ostentar o nome do Bairro Queens, em sua homenagem.

Catarina Henriqueta de Bragança nasceu em Vila Viçosa, filha do rei português D. João IV, aclamado como o restaurador da independência de Portugal face aos ataques e ocupação de Espanha. Com o apoio da igreja católica, o seu casamento começou a ser negociado desde os 8 anos de idade com várias Casas Reais da Europa, uma vez que Portugal precisava desse apoio como força diplomática para enfrentar as tentativas de ocupação por parte dos espanhóis.

A escolha para o seu casamento recaiu em Carlos II, Rei de Inglaterra, Escócia e Irlanda. A assinatura desse contrato de casamento custou a Portugal um dote considerado caro. A coroa portuguesa entregou a cidade de Tânger e a ilha de Bombaim, na Índia Oriental. O povo português nunca apoiou a negociação desse dote, mas os protestos de pouco serviram, uma vez que a vontade real e a necessidade de sensibilizar a Inglaterra para uma possível ajuda contra a invasão espanhola eram mais fortes. A ocupação de Tânger acabou por ser curta, uma vez que a coroa inglesa considerava essa ocupação muito onerosa e sem interesse. Dado o abandono, Tânger foi tomada pelo sultão de Marrocos.

Em Inglaterra, Catarina casou primeiro pela igreja católica, em segredo, e depois pela igreja an-glicana, em público. O seu marido permitia a tole-rância religiosa. Catarina abortou três vezes e nun-ca conseguiu dar à coroa um herdeiro legítimo. O seu marido colecionava filhos de outras mulheres, mas à época eram considerados ilegítimos e sem direitos de sucessão. Com a morte do Rei Carlos II, sucedeu-lhe o irmão Jaime II. Catarina continuou em Inglaterra porque o cunhado era ainda mais tolerante com os católicos do que o seu marido.

Catarina não deixou herdeiros, mas o seu lega-do foi de tal forma representativo que será sempre recordada por ter sido a responsável pela intro-dução em Inglaterra do chá, da geleia de laranja, do uso de talheres e do hábito de se fumar. Sem apoio popular chegou a ser acusada da preparação da morte do marido, com o beneplácito da igreja católica.

Vivia-se uma época de grandes confrontos ideológicos entre católicos e protestantes. Jaime II não se aguentou muito tempo no poder e foi deposto em favor da sua filha Maria e do Rei Guilherme III dos Países Baixos, verdadeiros reis protestantes. Essa época marcou o fim da governação absolutista em Inglaterra e os primeiros passos pa-ra a transferência dos poderes e decisões políticas para o Parlamento.

Jaime II fugiu para França e Catarina de Bragança regressou a Portugal. O Parlamento inglês aprovou, entretanto, a chamada Declaração de Direitos (Bill of Rights) inviabilizando, desse modo, o regresso de mais algum católico à coroa das ilhas britânicas.

Jorge Passarinho