EMIGRANTES REGRESSAM A PORTUGAL

Correio da Manhã Canadá

A emigração foi encarada, durante muitos anos, como um fenómeno de países subdesenvolvidos e, por isso, alvo de poucos estudos e preocupações. Hoje, o fluxo de pessoas tem outro significado e valor, ao ponto de inspirar profundos trabalhos de muitos técnicos nas áreas da economia, geografia e sociologia, ao serviço de organizações internacionais. Estudarse os fluxos migratórios, as suas motivações e a integração em novas culturas passaram a ser uma obrigação, dada a dimensão desta realidade.

Ainda há quem se aventure por esse mundo fora à procura da melhor solução para a sua vida por via clandestina. Mas isso é cada vez mais raro, devido aos apertados controlos alfandegários e à eficácia dos serviços de fronteira. As regras estão mais rigorosas e o cidadão comum passou a ser mais vigiado.

Pelos dados oficiais sabe-se que o número de portugueses espalhados pelo mundo aproximase dos 5 milhões, o que representa quase metade da população residente em Portugal. Somos de facto um povo de viajantes com presença em todos os continentes. No entanto, a tendência crescente começou a abrandar nos últimos dois anos. Não só há menos gente a sair, como se regista o regresso de muitos que partiram e que voltaram a escolher Portugal para viver o resto da vida.

Os portugueses sempre demonstraram ligações muito fortes e afetivas ao seu País de origem. Não é por acaso que Portugal liderou, entre os países da União Europeia, o volume das remessas de emigrantes. Durante o ano passado, os emigrantes portugueses depositaram em Portugal quase 3,5 mil milhões de euros (cerca de 5,5 biliões de dólares), prevendo-se que no final deste ano esse número aumente, em cerca de 1 por cento, dadas as tendências de crescimento que se têm verificado nos últimos sete anos.

Este fenómeno da Portugalidade é, de facto, um case study. Os portugueses ambicionam sempre mais e melhor, seja onde for, mas nunca esquecem as suas origens e a sua cultura. A integração nos países de acolhimento é, regra geral, pacífica e em consequência são muito admirados e reconhecidos. Mas em paralelo, nunca esquecem e desenvolvem as suas raízes e expressam publicamente a alma e a marca de Portugal.

Por que razão os macaenses, que mais se parecem com chineses, dançam o folclore do Minho e exibem os trajes tradicionais lusitanos? Da mesma forma, aqui no Canadá, não só não esquecemos como contribuímos para o desenvolvimento da cultura portuguesa. Na música, nas artes, no desporto e até na gastronomia marcamos a nossa diferença e exibimos com orgulho o melhor que nos transmitiram. O expoente máximo desta realidade é a Parada do Dia de Portugal.

E no fim de tudo, há sempre o sonho de um dia regressar definitivamente. É visível a felicidade durante os períodos de férias vividos entre familiares e amigos de infância. Desde o século XV, período que marca a nossa saída para o mundo, que passamos a gostar de contar a nossa história e é com as histórias de cada um que assinalamos a nossa presença em todo o lado. Agora a tendência é regressar, mas amanhã poderá ser novamente ao contrário.

Jorge Passarinho