CHEFE DA INVESTIGAÇÃO DO CASO BRUCE MCARTHUR EM EXCLUSIVO

Foto: CMC
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A equipa do CMC esteve à conversa com Hank Idsinga, que dirigiu a investigação do caso Bruce McArthur, uma das maiores da história de Toronto.

Por: Jennifer Ferreira

Bruce McArthur. Esse nome tornou-se famoso no Canadá, e também ganhou destaque a nível internacional depois das descobertas feitas pela polícia no ano passado. O jardineiro de 67 anos declarou-se culpado pelas mortes de oito homens entre os anos de 2010 e 2017, levando a uma das maiores investigações forenses conduzidas pela polícia de Toronto. Outro nome que se tornou igualmente familiar, e estampou capas de jornais e noticiários televisivos, foi o de Hank Idsinga. O inspetor da polícia de Toronto foi o responsável por chefiar a complexa investigação desde novembro de 2017 até que o acusado se declarasse culpado, o que aconteceu em janeiro deste ano. O CMC conversou com o investigador sobre os pormenores e o seu envolvimento no caso e quais as aprendizagens durante o processo.

Uma das suas citações ganhou destaque. Quando afirmou que a cidade de Toronto nunca tinha visto nada parecido como este caso. Pode falar um pouco sobre isso?

Nós nunca tínhamos tido um assassino em série como este, antes. Já nos tínhamos deparado com membros de gangues que mataram mais do que uma pessoa, lidámos com assassinos que cometem atos terroristas, há outro caso antigo de um terrível incêndio onde uma pessoa foi condenada por múltiplos homicídios em primeiro grau, mas nunca nada desta dimensão. E espero que nunca voltemos a ter.

A polícia descobriu inicialmente restos mortais humanos em diversos vasos de plantação na casa no número 53 na Mallory Crescent. O que lhe passou pela cabeça enquanto eram retirados os restos mortais?

Foi um momento marcante. Ali demo-nos conta da dimensão do caso que poderíamos ter em mãos. Quando prendemos e acusámos o Sr. McArthur por dois assassinatos, não tínhamos ideia de onde poderiam estar os restos mortais. Então assim que os descobrimos, percebemos a quantidade de trabalho que teríamos pela frente.

Em 29 de janeiro, mais de um ano depois de ser preso, McArthur declarou-se culpado das oito acusações de homicídio em primeiro grau. Foi condenado a prisão perpétua sem oportunidade de pedir liberdade condicional por 25 anos. Mesmo com a deliberação da sentença, a polícia ainda está à procura de possíveis ligações entre McArthur e outros casos de pessoas desaparecidas?

Nós acreditamos que chegámos a todas as vítimas do Sr. McArthur de Skanda Navaratnam em 2010 e em diante. Ainda estamos a investigar casos antigos de décadas passadas, então eu não excluo totalmente a possibilidade de que outros homens possam ter sido mortos por ele. Mas, no momento, não temos absolutamente nada que ligue o Sr. McArthura outro possível crime.

Em dezembro de 2017, o chefe da polícia de Toronto, Mark Saunders, descartou publicamente a ideia da existência de um assassino em série na comunidade gay da cidade. Acha que ele “enganou” o público ao dizer isso?

Não, eu acredito que o que ele disse na época foi correto. Naquele momento nós só tínhamos evidências para dizer que o Sr. McArthur era suspeito da morte de Andrew Kinsman. Não poderíamos fazer declarações baseadas em especulações ou teorias. Seria errado sair a público e declarar: “A nossa teoria é…”, ou então: “Nós estamos a especular…”. Imagine as repercussões que isso iria haver se estivéssemos errados.

Que impacto é que acha que este caso teve na relação da polícia de Toronto com a comunidade gay da cidade?

Eu acredito que teve um impacto positivo e também negativo. Eu certamente recebi mais agradecimentos do que críticas ao longo do ano passado. Mas ao mesmo tempo, também reforçou alguns sentimentos negativos que as pessoas podiam ter em relação à polícia, alguns preconceitos históricos e sentimentos de desconfiança. Só posso dizer é que nós estamos sempre dispostos a ajudar e eu espero que as pessoas acreditem nisso e nos procurem quando necessário.

No ano passado, o Toronto Police Services Board realizou uma avaliação externa de como as autoridades lidam com casos de pessoas desaparecidas. A polícia de Toronto também lançou uma investigação interna direccionada especificamente ao caso McArthur. Acredita que existe algo de errado com a forma como atualmente as autoridades lidam com casos de pessoas desaparecidas?

Eu acho que os casos que envolvem o desaparecimento de pessoas estão sempre a mudar. Nós iniciámos algumas iniciativas no ano passado, e o governo de Ontário está a tentar implementar uma nova legislação para nos dar mais condições para lidar com estes casos específicos. Então acredito que estamos a caminhar na direção certa, mas não acho que esta evolução vai parar.

Que aprendizagens tirou deste caso?

Eu nunca vou esquecer este caso. Ainda há muitos pensamentos na minha mente sobre ele e eu não acho que se vão embora. É um daqueles casos em que nós brincamos que ainda estará nas nossas memórias, e vamos continuar a falar sobre ele quando já estivermos bem velhinhos numa casa de idosos e todas as outras memórias já tiverem desaparecido. Eu já participei de muitas investigações importantes e complexas, mas esta definitivamente foi uma das maiores.

As perguntas e respostas foram editadas para comprimento e clareza.