Violência pós-eleitoral vale prejuízos de 2,8 ME à concessionária moçambicana Revimo

Maputo, 22 ago 2025 (Lusa) – A violência pós-eleitoral em Moçambique provocou prejuízos de 2,8 milhões de euros à Rede Viária de Moçambique (Revimo) em 2024, segundo dados da empresa, responsável pela exploração de mais de 670 quilómetros de estradas no país.

No relatório e contas de 2024, que a Lusa teve hoje acesso, é referido que durante as manifestações que se seguiram às eleições gerais de 09 de outubro, “as infraestruturas viárias concessionadas à Revimo, incluindo as praças de portagem e os sistemas de cobrança, foram alvos de eventos violentos”, com “bloqueios das vias, vandalização e queimadas das estradas e portagens e do centro e unidade de manutenção de Maputo e Gaza, respetivamente”.

Acrescenta que estas ações “resultaram em prejuízos acumulados e perda de receita, até ao fecho do ano”, estimados em 211 milhões de meticais (2,8 milhões de euros).

“A situação acima descrita obrigou a empresa a interromper as operações de cobrança em 13 das 16 portagens sob sua gestão, devido à falta de condições para a cobrança (segurança e infraestruturas), o que, por sua vez, afetou 418 colaboradores diretos da Revimo, e 1.004 colaboradores indiretos de empresas subcontratadas, na sua maioria jovens”, lê-se no documento, recordando que empregava, no final do ano, 654 trabalhadores.

A situação afetou o desempenho da Revimo, que apresentou lucros de 54,7 milhões de meticais (736 mil euros) no fecho do ano, mas uma redução de 65% face aos resultados líquidos de 2023, um resultado que “foi adversamente afetado pelos eventos naturais extremos ocorridos no primeiro trimestre e, principalmente, pelas manifestações pós-eleitorais que afetaram o país desde o quarto trimestre”.

O impacto deveu-se também, refere o relatório, responsável pela construção, conservação e manutenção de vias no país, ao “maior esforço financeiro decorrente do aumento dos custos de manutenção e conservação das infraestruturas, em particular o início da implementação do projeto de manutenção especializada da ponte Maputo — KaTembe”.

Em causa esteve a maior contestação aos resultados eleitorais em Moçambique desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), liderada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro do ano passado.

Uma das formas de protesto, que se prolongou por quase todo o primeiro semestre deste ano, foi o boicote ao pagamento de portagens em todo país, com cabines e de cobrança e outras infraestruturas destruídas um pouco por todo o país.

Após vários meses de agitação social e manifestações de contestação aos resultados eleitorais – vitória de Daniel Chapo e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975) -, que levaram a saques, destruição de propriedades públicas e privadas, e cerca de 400 mortos, o chefe de Estado e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez em 23 de março, em Maputo, e acordaram pela pacificação do país, encontro que se repetiu em 20 de maio.

Ainda assim, as vias concessionadas à Revimo, totalizando 672,9 quilómetros, registaram um tráfego médio diário anual de 76.055 viaturas, um aumento de 42,6% face a 2023, enquanto a receita média diária anual aumentou 12,3%, para 7.278 milhões de meticais.

A Revimo tem atualmente sob a sua gestão 287 km da estrada N6, entre Beira e Machipanda, 71,4 km da Circular de Maputo, incluindo a estrada R804 Marracuene — Macaneta, numa extensão de 12 km, e a ponte Maputo – KaTembe e respetivas estradas de Ligação entre Maputo e a fronteira da Ponta D´Ouro, Zitundo – Vila da Ponta D’Ouro e Bela Vista – Boane, com 187 km.

Ainda as estradas R453 Macia – Praia de Bilene, com uma extensão de 38,5 km, a N101 Macia – Chokwé com uma extensão de 61,7 km e a R448, de Chokwé a Macarretane, com 21,8 km.

A empresa é detida em 68,7% pelo Fundo de Estradas de Moçambique, além do Fundo de Pensões do Banco de Moçambique e do Instituto Nacional de Segurança Social, cada um com uma participação de 14,7%.

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