Venâncio Mondlane diz que detidos nas manifestações em Moçambique “hão de sair”

Beira, Moçambique, 20 set 2025 (Lusa) – O político Venâncio Mondlane garantiu hoje que “querendo, não querendo” os mais de 5.000 jovens detidos durante as violentas manifestações pós-eleitorais de 09 de outubro em Moçambique “hão de sair”.

“Não podemos admitir, porque roubaram os nossos votos, roubaram as nossas vitórias nas urnas. O povo saiu para a rua e hoje temos mais de 5.000 jovens detidos por reclamar o seu próprio direito”, declarou Venâncio Mondlane, candidato presidencial à eleição de outubro.

O político falava hoje durante a cerimónia do lançamento oficial do partido Anamola, o qual dirige como presidente interino, na cidade da Beira, na província de Sofala, centro de Moçambique.

Moçambique viveu desde as eleições gerais de 09 de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.

“Nossos irmão estão presos não estão? (…) querendo, não querendo, hão de sair”, disse Mondlane, garantindo que aquele não era um favor prestado ao partido e reiterando que os mesmos “devem sair da cadeia”.

Pelo menos 300 participantes, entre nacionais e estrangeiros, são esperados a partir de hoje no primeiro Conselho Nacional do partido Anamola, na província de Sofala, evento que inicia com o lançamento oficial do movimento político.

Trata-se da 1.ª sessão ordinária do Conselho Nacional do partido Aliança Nacional Para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamola), que vai decorrer até domingo, constando entre os assuntos do debate a eleição dos quadros definitivos e a aprovação dos instrumentos internos.

Na intervenção de hoje, Mondlane reiterou que o Governo é “obrigado” a indemnizar as famílias que tiveram os membros “assassinados” pela polícia, “que devia proteger o povo”, e a prover tratamento gratuito às pessoas baleadas durante os tumultos que se seguiram às eleições.

“Mas sabem por que hão de fazer? Não são eles, quem vai fazer isso somos nós, Anamola, porque 2028 e 2029 é para limpar tudo”, acrescentou.

Pelo menos 35 pessoas foram absolvidas por “insuficiência de provas” após oito meses detidas por “participação em motim e furto agravado” durante as manifestações pós-eleitorais, na cidade da Beira, centro de Moçambique, divulgou em agosto a Plataforma eleitoral Decide.

De acordo com dados avançados à Lusa pela mesma Organização Não-Governamental (ONG), pelo menos 7.200 pessoas foram detidas durante as manifestações pós-eleitorais em Moçambique, 4.337 das quais estão em liberdade.

As restantes 2.863 estão ainda nas celas “sem julgamento ou provas suficientes”, aguardando a análise dos seus casos ou o “prometido indulto previsto no Boletim da República”, no âmbito do acordo do diálogo político inclusivo assinado entre o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, e partidos políticos.

O partido Anamola foi aprovado em 15 de agosto pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique, num pedido de registo que deu entrada em abril, disse à Lusa o seu mandatário judicial, Mutola Escova.

A cerimónia do lançamento oficial do partido, que se iniciou por volta das 08:00 (menos duas horas em Lisboa), contou, entre outros, com o registo de membros do movimento político, além de apresentações culturais, tendo culminado com uma marcha pelas ruas da cidade da Beira.

Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, morreram cerca de 400 pessoas em confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após dois encontros entre Mondlane e Chapo, com vista à pacificação do país.

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