Renamo pede aos “financiadores” da Junta Militar para pararem apoio

Maputo, 25 fev 2021 (Lusa) – A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, pediu hoje aos “financiadores” da dissidência armada do partido para pararem o apoio ao grupo, apontando a adesão ao processo de paz como a única solução.

“Apelámos aos financiadores da autoproclamada Junta Militar para levarem a mão à consciência [e pararem com o seu apoio]”, declarou Viana Magalhães, chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República (AR).

Viana Magalhães falava no discurso de abertura da terceira sessão da IX Legislatura da AR hoje em Maputo.

O deputado lançou uma exortação direta ao líder da Junta Militar da Renamo, Mariano Nhongo, instando-o a aderir ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) em curso no país.

“Apelamos a Mariano Nhongo e à junta para aderirem ao DDR”, enfatizou.

O chefe da bancada da Renamo criticou a alegada falta de afetação em postos de comando das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas de antigos guerrilheiros do braço armado do principal partido da oposição abrangidos pelo DDR.

Sobre outros temas do momento em Moçambique, Viana Magalhães considerou que o executivo tem conduzido a estratégia de combate à covid-19 por via de “politiquices” e não através do “realismo”, acusando as autoridades de responsabilidades no aumento exponencial de mortes e casos de infeção pela pandemia.

“O país precisa de soluções realistas e não de politiquices para combater o coronavírus”, declarou Viana Magalhães.

O chefe da bancada da Renamo apontou a demissão, por iniciativa própria, do antigo ministro da Saúde de Moçambique Hélder Martins da comissão científica contra a covid-19 como prova de politização negativa do órgão.

“Solidarizamo-nos com Hélder Martins, porque as questões que coloca correspondem à nossa preocupação sobre a politização de soluções que deviam ter uma natureza independente e científica”, enfatizou Viana Magalhães.

Para a Renamo, o executivo moçambicano tem conduzido o combate à pandemia sem transparência e sem respeito por opiniões científicas e autorizadas, o que levou à subida de mortes, infeções e internamentos.

Hélder Martins demitiu-se da comissão técnico-científica para a covid-19 no país, considerando que o poder político não tem seguido as recomendações do grupo, escreveu numa carta divulgada no domingo.

“Muitas foram as vezes em que as recomendações da comissão foram ignoradas” e em que o Governo “tomou decisões em matérias em que a comissão não foi ouvida ou absolutamente ao arrepio do que recomendou”, referiu no documento.

Segundo Hélder Martins, “a situação degradou-se muito desde dezembro”, quando o Governo permitiu um relaxamento de restrições, com o aproximar da quadra festiva de Natal e passagem de ano, dando “um sinal errado” à população.

“Estamos todos a sofrer as consequências”, destacou, numa alusão ao aumento de casos, internamentos e mortes que só em janeiro foram superiores aos de todo o ano de 2020.

O cenário obrigou a um recuo, com reforço de restrições, que incluem um recolher obrigatório noturno em Maputo, capital, epicentro da covid-19 no país.

“O recolher obrigatório é uma medida que, analisada do ponto de vista científico, é de eficácia altamente discutível. Não posso ser tomado como cúmplice desta medida tão desacertada”, afirmou o médico e ex-ministro.

Os ataques da Junta, liderada por Mariano Nhongo, antigo líder de guerrilha da Renamo, já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto de 2019.

O grupo contesta a liderança do partido e as condições para a desmobilização decorrentes do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, assinado a 06 de agosto de 2019 entre o Governo e a Renamo.

Moçambique regista um cumulativo de 608 mortes por covid-19 e 56.920 casos de infeção.

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