Religião: Romeiros de Santa Maria de Toronto iniciam preparativos para a Romaria de 2025

A Romaria de São Miguel é uma das mais antigas e profundas tradições da comunidade açoriana, contando com mais de 500 anos de história.  A sua criação, no séc. XVI, deve-se a uma série de desastres naturais que assolaram a ilha, levando à realização de uma caminhada de fé durante sete dias. Os romeiros, organizados em grupos chamados ranchos, percorrem a ilha a pé, visitando igrejas e ermidas, rezando e renovando a fé, enquanto pedem proteção divina e praticam o sacrifício cristão.

Hoje, essa tradição continua viva, não apenas em São Miguel, mas também entre as comunidades de emigrantes espalhadas pelo mundo. Um desses grupos é o Rancho de Romeiros de Santa Maria de Toronto, que já está a todo o gás na organização da romaria de 2025, na ilha de São Miguel, nos Açores. Este evento, que marca o início da Quaresma, reúne fiéis de diferentes partes do mundo numa caminhada de fé e devoção.

Em entrevista ao Correio da Manhã Canadá (CMC), João Silva, mestre da romaria, e José da Ponte, ajudante dos mestres, falaram sobre os preparativos e a importância do evento. João Silva explicou que as reuniões preparatórias começam ainda no decorrer do presente ano, a 1 de dezembro, com ensaios e orações todos os domingos, das 2 pm às 4 pm, no salão paroquial de Santa Maria, em Toronto. O mestre destacou que, apesar das dificuldades, o objetivo da romaria é a criação de um grupo unido e dedicado, com respeito e devoção, para enfrentar a caminhada, que é tanto física quanto espiritualmente exigente.

João Silva também comentou a importância dos ensaios e da união entre os romeiros. “É muito bom ter sempre um ensaio. Mesmo que seja apenas uma vez (…) isso é muito importante para todos nós. O ensaio ajuda-nos a aprender e a unir-nos mais”, contou ao CMC.

“No final, o que realmente fortalece os romeiros, o nosso rancho e qualquer rancho é a boa fé. Quando temos o terço nas mãos, e estamos todos juntos, com o mesmo objetivo, isso dá-nos força. A caminhada fica mais forte quando estamos unidos, a rezar e a compartilhar esse momento.”

João Silva diz ainda que o número de romeiros presentes não é o mais importante: “Mesmo que tenhamos 30 ou 40 romeiros, ou até mais ou menos, como diz na Bíblia, ‘quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, lá estarei no meio deles’. E é isso que sentimos durante a romaria: uma grande amizade, bondade e a presença de Deus que nos fortalece a cada oração. Esse espírito dá-nos a força para seguir em frente, mesmo com as dificuldades.”

O mestre da romaria também enfatizou que a paróquia de Santa Maria, em Toronto, que tem sido a base da organização da romaria, continua a ser um pilar fundamental para a realização do evento. “Mesmo a morar em Mississauga, Santa Maria é a minha paróquia mãe desde 1986. Aqui fui sempre acolhido com carinho e o apoio da comunidade é essencial para o sucesso da romaria”, afirmou.

A romaria, com cinco séculos de prática, tem sido mantida viva geração após geração, com a adesão crescente de jovens, que, embora muitos nem sempre possuam origem açoriana, almejam participar na tradição.

João Silva explicou que este ano há uma grande expetativa em relação à participação de novos romeiros, alguns vindos de famílias que nunca se envolveram na romaria anteriormente. “Estamos a trabalhar para incluir os jovens na caminhada. Vemos cada vez mais romeiros novos e a tradição tem-se fortalecido com isso”, disse.

José da Ponte, por sua vez, destacou o valor da união entre os romeiros, que, embora de diferentes origens, formam uma grande família. “A romaria não é apenas um evento de oração, mas também um encontro de culturas e fé. Todos têm um papel importante, e juntos caminhamos com a mesma intenção: fortalecer a nossa espiritualidade”, afirmou.

A preparação para a romaria envolve tanto o aspecto físico como o espiritual. Tal como explicou Silva, a caminhada de sete dias não é fácil e os romeiros devem estar bem preparados para o desafio. Embora as caminhadas de preparação no Canadá não possam simular o percurso exato, os ensaios ajudam a promover a disciplina e a resistência física necessária. “A preparação não se limita ao físico. Também nos concentramos na espiritualidade, pois a caminhada é um percurso de fé. Todos os romeiros devem ser católicos e estar comprometidos com os princípios cristãos”, diz João Silva.

A adesão à romaria é ampla, com cerca de 30 participantes confirmados até ao momento, e a comunidade continua a apoiar a iniciativa. As famílias que acolhem os romeiros ao longo do percurso também desempenham um papel importante, oferecendo suporte e hospitalidade. “A participação de todos é essencial para garantir que esta tradição continue viva e cheia de espiritualidade”, refere José da Ponte.

O principal objetivo da romaria de 2025 é rezar pela paz no mundo e pelas famílias. “Vamos rezar pela paz no mundo inteiro, começando por nós mesmos. Só assim poderemos pedir por outros”, afirmou João Silva. O mestre também destacou a importância do apoio da comunidade micaelense, que recebe sempre os romeiros com generosidade. “O povo de São Miguel acolhe-nos de uma forma que não temos palavras para agradecer. Isso toca-nos profundamente e motiva-nos a continuar com a tradição”, disse emocionado.

A romaria de 2025 que une romeiros de vários países, promete ser mais um ano marcado pela fé, devoção e amizade. João Silva e José da Ponte convidam todos a juntar-se à romaria, que tem o poder de fortalecer a comunhão entre os emigrantes e renovar a esperança em tempos difíceis.

 

Convite à comunidade

João Silva e José da Ponte deixam um convite aberto à comunidade para se unir à romaria de 2025: “Este é um convite para todos aqueles que desejam participar desta caminhada de fé e devoção. Juntos, podemos fortalecer a nossa união e oração, e garantir que a tradição da romaria continue a ser vivida por muitas gerações”, concluem.