Quase 180 mil deslocados desde julho em Cabo Delgado – Governador

Cabo Delgado, Moçambique, 23 dez 2025 (Lusa) — Quase 180 mil pessoas deslocaram-se, desde julho, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, devido a ataques de grupos terroristas, anunciou hoje o governador da província, Valige Tauabo.

“Desde o mês de julho do ano em curso há registo de deslocamento de 179.971 pessoas, com destaque para os distritos de Chiúre, Mecúfi e Moeda”, disse Tauabo durante um encontro com jornalistas em Pemba, por ocasião das festas.

Sem avançar mais detalhes, o governador pediu solidariedade para com as vítimas dos ataques de rebeldes e também aos afetados por ciclones, estes últimos com pelo menos 270 mil pessoas em situação de carência extrema, “necessitando de assistência multiforme”.

“Enquanto celebramos as festividades do Dia da Família e do fim de ano, dediquemos um momento à solidariedade para com as famílias afetadas pelo terrorismo e pelos efeitos das mudanças climáticas”, frisou.

Só no distrito de Nangade, numa semana, quase 3.000 pessoas fugiram das suas casas, após ataques de grupos terroristas, segundo dados divulgados em 18 de dezembro pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório da OIM, consultado pela Lusa, a verificação conjunta entre a agência das Nações Unidas e as autoridades locais “confirmou a chegada” a áreas “mais seguras” do posto de Ntamba de 2.972 pessoas, equivalente a 883 famílias, deslocadas de várias aldeias de Nangade.

Este movimento foi registado, explica o relatório, após o ataque de grupos armados na vila de Nambedo, distrito de Nangade, em 10 de dezembro, com a deslocação destes grupos de habitantes locais a acontecer entre 11 e 15 de dezembro, a maioria com destino ao centro de Ntamba, que recebeu 1.422 pessoas (432 famílias).

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

De acordo com o mais recente relatório da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, dos 2.270 eventos violentos registados desde outubro de 2017, um total de 2.107 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Estes ataques provocaram, em pouco mais de oito anos, 6.341 mortos, segundo um balanço oficial.

No relatório aborda-se igualmente a movimentação de elementos do EIM nos distritos de Eráti e Memba, na província vizinha de Nampula, relatando que, “até 21 de novembro, já haviam realizado 13 ataques contra comunidades civis nos dois distritos e matado pelo menos 21 civis”, movendo-se em “pelo menos três grupos”.

Novembro é o terceiro mês consecutivo em que o EIM tem estado ativo no norte de Nampula, marcando a atividade mais sustentada na província desde o início da insurgência, acrescenta a ACLED.

A organização admite que estas “repetidas incursões” sugerem que o grupo “pode estar a procurar reforçar as ligações existentes na área, possivelmente com vista a reforçar as rotas de abastecimento para recrutas e mercadorias”.

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