Processo da Manuel Pereira Roldão terminado mas 23 ex-trabalhadores não receberam indemnização

Marinha Grande, Leiria, 20 nov 2025 (Lusa) — O processo das indemnizações aos ex-trabalhadores da Manuel Pereira Roldão, empresa vidreira da Marinha Grande que fechou em 1999, está terminado, mas 23 antigos funcionários não receberam os créditos a que tinham direito, segundo fonte do tribunal.

“O processo está terminado e está com remessa ao arquivo [da Comarca de Leiria]. Vinte e três credores, ex-trabalhadores, não receberam os créditos por falta de apresentação do IBAN, apesar de notificados, e outros por já terem falecido e eventuais herdeiros não terem reclamado o pagamento”, disse hoje à agência Lusa fonte do Tribunal do Comércio de Leiria.

O montante total rateado foi de 1.200.519,45 euros, tendo sido pago a 458 ex-trabalhadores da fábrica um total de 1.183.326,58 euros.

“A diferença — 17.192,87 euros — foi transferida para o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, sendo que, no período de cinco anos, a contar desde 12 de fevereiro de 2025, ex-trabalhadores ou herdeiros poderão vir ao processo reclamar o pagamento”, explicou.

De acordo com esta fonte, “houve uma ex-trabalhadora que, apesar de notificada, não reclamou o crédito”, sendo que noutro caso um antigo funcionário remeteu o crédito a que tinha direito para o lar onde vivia.

O processo de insolvência da Manuel Pereira Roldão remonta a 1999 e era o mais antigo pendente no Tribunal de Comércio de Leiria. Começou na Marinha Grande, onde foi arquivado, e redistribuído para o Tribunal de Comércio de Leiria, em 2016.

O último administrador de insolvência, Carlos Inácio, que tomou conta do processo em janeiro de 2019, afirmou que o seu objetivo foi dar um fim a este processo.

“Quando fui nomeado, havia ainda uns bens por liquidar, eram uns bens imóveis, umas partes que estavam contíguas à sede da insolvente, da falida. O primeiro passo foi encerrar os bens que existiam para liquidar”, declarou.

Carlos Inácio salientou que “isso foi conseguido”, seguindo-se depois a prestação de contas e “fazer o mapa de rateio”, que consiste na divisão proporcional das quantias existentes na massa insolvente pelos credores reconhecidos.

Posteriormente, dado existir “um saldo que estava numa conta da Caixa Geral de Depósitos”, na ordem dos 180 mil euros, houve necessidade de “redistribuir novamente” pelos ex-trabalhadores esse montante.

Carlos Inácio assinalou que neste processo de pagamento a ex-trabalhadores teve a ajuda do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV).

Há mais de três décadas, precisamente no final de dezembro de 1994, os trabalhadores da vidreira Manuel Pereira Roldão abriram os telejornais, dias seguidos, com a luta contra os salários em atraso e o anunciado encerramento.

O protesto dos vidreiros incluiu o corte de estradas e da Linha ferroviária do Oeste, a retenção dos administradores da empresa nas instalações da unidade e a ocupação de serviços públicos, entre outras ações.

As iniciativas dos trabalhadores, às quais se juntaram habitantes, levaram então a polícia a protagonizar uma “das cargas policiais mais brutais que alguma vez foi vista” no país, recordou numa entrevista à Lusa há quase uma década a antiga dirigente do STIV Etelvina Rosa e ex-funcionária da empresa.

Segundo o arquivo da Lusa, numa ocasião as autoridades perseguiram os manifestantes até ao interior de estabelecimentos comerciais e do quartel dos bombeiros, atingindo à bastonada quem se encontrava naqueles locais, e cerca de uma dezena de pessoas, incluindo duas crianças, foram assistidas no hospital de Leiria.

E quando operários tentaram refugiar-se no edifício da Câmara, a polícia também os atingiu à bastonada, lembrou Etelvina Rosa.

O forno da Manuel Pereira Roldão, criada em 1940, acabou por ser desligado no final dos anos 90.

No dia 14 de dezembro, realiza-se o segundo encontro de ex-trabalhadores da empresa, na Sociedade de Beneficência e Recreio 1.º Janeiro, na Ordem, Marinha Grande.

Este almoço assinala os 50 e os 30 anos em que a empresa esteve em autogestão, primeiro em 1975 (e até 1978) e depois em 1995.

No primeiro caso, uma resolução do Conselho de Ministros (14 de março de 1975) nomeou uma comissão administrativa eleita pelos trabalhadores, esclareceu Etelvina Rosa.

Já em 1995, os trabalhadores, para evitar o fecho do forno, pois só a manutenção, deste, garantia a continuidade dos postos de trabalho, decidiram avançar com uma comissão de gestão que garantiu a laboração até a empresa ser comprada, o que se concretizou no final desse ano, acrescentou Etelvina Rosa.

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