Presidente são-tomense defende mais apoios aos sobreviventes do massacre de Batepá

São Tomé, 03 fev 2022 (Lusa) – O Presidente são-tomense defendeu hoje que “é preciso fazer mais” pelos sobreviventes do massacre de Batepá, em 03 fevereiro de 1953, para que a memória não se esqueça e se valorize tudo o que aconteceu neste dia.

“É nosso compromisso e na medida das possibilidades que o país tem, é preciso olhar por eles [..] é preciso fazer mais, é preciso fazer cada dia mais, é preciso fazer cada vez mais e a nós cabe-nos ocuparmos disso e é nosso dever fazer isso”, defendeu Carlos Vila Nova, que presidiu pela primeira vez ao ato central do dia consagrado aos heróis da liberdade.

O chefe de Estado considerou que é preciso compreender o contexto histórico de então, em que “a violência tomou conta da situação” abrindo espaço para “maus tratos, muita violência, muitos castigos, vítimas mortais e torturas” a milhares de nativos da ilha de São Tomé.

“Tudo isso hoje integra a nossa história, mas de uma certa maneira isto permitiu estarmos aqui hoje em liberdade e a viver num Estado de direito democrático”, realçou.

O Presidente da República entende que é de valorizar o “contributo doloroso” e “penoso” que as vítimas e sobreviventes do massacre de 1953 deram a São Tomé e Príncipe.

“Nós que estamos aqui, nós que vamos continuar aqui também temos o dever de dar o nosso contributo para o bem deste país e é este o entendimento que eu espero que todos os são-tomenses tenham presente entre si e que possam, de facto, valorizar tudo que aconteceu até agora”, frisou.

O primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, assegurou que os 10 sobreviventes do massacre de Batepá ainda vivos “têm recebido algum apoio”, mas reconheceu “que têm que ser apoiados muito mais de forma institucional, mas também merecem um carinho social maior de todos”, inclusivamente dos seus próprios familiares.

 “A nossa história foi regada com o sangue dos nossos mártires por isso a tradição nos traz para esse espaço todos os anos justamente para podermos honrar a história, recordar esses mártires, celebrar a liberdade”, disse Bom Jesus.

O chefe do Governo afirmou que a geração do presente também tem novos desafios, inimigos e muitos problemas que permanecessem.

“Eles tiveram o colonialismo, mas nós temos a pandemia, temos o subdesenvolvimento, temos a necessidade de unidade, de preservação da nossa própria liberdade”, precisou o governante.

O presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, defendeu que “basta de comemorar o 03 de fevereiro sempre fazendo as mesmas coisas”.

 “Temos estado a comemorar o 03 de fevereiro todos os anos com serenidade, com respeito a aqueles que tombaram pela nossa liberdade e autodeterminação, mas julgo que temos que mudar de paradigma”, referiu.

Delfim Neves advogou que as instituições do país devem aproveitar o memorial construído em Fernão Dias para realizar “colóquios, palestras e atividades ligadas à cultura e à identidade do povo para que as pessoas saibam efetivamente qual é o valor e o significado do sai do 03 de fevereiro”.

O dia 03 de fevereiro, feriado nacional, é assinalado todos os anos com uma marcha da juventude e um cerimonial especial que decorre na localidade de Fernão Dias em homenagem aos mártires da liberdade.

O ato central é marcado pela deposição de uma corroa de flores pelo Presidente da República no monumento construído em 2016 e reflexões dinamizadas pelas principais confissões religiosas presentes no país.

O massacre de Batepá ocorreu em 1953, após a revolta dos trabalhadores locais contra as condições laborais do sistema colonial, adotadas nas roças de cacau e café da ilha.

Na repressão desta revolta, ordenada pelo ex-governador Carlos de Sousa Gorgulho, morreram 1.032 pessoas, na versão são-tomense, e entre uma e duas centenas, na versão portuguesa da época.

 

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