
Paris, 16 out 2025 (Lusa) — O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, resistiu hoje à moção de censura apresentada pela França Insubmissa (LFI, esquerda radical), que foi chumbada por apenas 18 votos.
Esta moção, apoiada também pelos deputados do partido de extrema-direita União Nacional (RN), obteve 271 votos, abaixo dos 289 necessários para ser aprovada e conseguir provocar a queda do Governo e abrir caminho a uma nova dissolução.
É esperado que o primeiro-ministro conserve o cargo hoje, já que os deputados da LFI anunciaram que não votarão a moção de censura defendida pelo RN, de Marine Le Pen, que considerou que o orçamento de Lecornu “é um museu dos horrores”.
“É um momento da verdade, evidentemente. Queremos a ordem republicana, com debates que se realizam na Assembleia Nacional, ou queremos a desordem?”, questionou Sébastien Lecornu aos deputados, durante o debate marcado por contestação da oposição, em que afirmou que o seu segundo Governo não teme a censura e alertou para a continuação da crise política.
O primeiro-ministro pediu assim aos deputados, antes da votação das moções de censura, para não tomarem “como reféns o orçamento da nação e o da segurança social”, referindo-se ao debate sobre o projeto de lei orçamental para 2026 – cujo texto foi apresentado na terça-feira ao Conselho de Ministros – que deverá começar na próxima semana.
A direção do Partido Socialista (PS) – cujos votos são decisivos numa Assembleia sem maioria – pediu o voto contra, depois de o primeiro-ministro aceitar a sua exigência inegociável de congelar a reforma das pensões até janeiro de 2028, de modo a que o tema possa integrar o debate nas eleições presidenciais de 2027.
Aprovada em 2023, a proposta de lei, muito contestada por prever o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos, foi suspensa para tentar evitar que o frágil governo minoritário seja imediatamente derrubado.
“A suspensão da reforma das pensões é apenas uma ilusão”, afirmou Aurélie Trouvé, deputada da LFI encarregada de defender a moção do partido do líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, num apelo aos deputados socialistas para votarem a favor, sem sucesso.
O primeiro secretário do PS, Olivier Faure, anunciou hoje que não irá censurar enquanto “o Parlamento for respeitado”, tal como o chefe de Governo prometeu no seu discurso de política geral. No entanto, sete deputados socialistas decidiram votar a favor da censura.
Na terça-feira, o Partido Socialista francês anunciou estar disposto “a apostar” na continuidade do debate parlamentar, afastando o fantasma de uma moção de censura imediata da sua parte contra o Governo.
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