Oito ativistas detidos em Shenzhen regressaram a Hong Kong, incluindo jovem luso-chinês

Hong Kong, China, 22 mar 2021 (Lusa) — Oito ativistas pró-democracia de Hong Kong detidos há sete meses em Shenzhen, na China continental, foram hoje entregues às autoridades da antiga colónia britânica, um grupo que deverá incluir o jovem luso-chinês Tsz Lun Kok.

A deportação dos ativistas, detidos por travessia ilegal das águas da China continental, em 23 de agosto último, foi confirmada pela Polícia de Hong Kong, em comunicado a que a Lusa teve acesso.

“Hoje a polícia de Hong Kong recebeu oito suspeitos das autoridades da China continental no porto da baía de Shenzhen [na fronteira com aquela região administrativa especial], em grupos separados”, pode ler-se na nota, que não identifica os detidos deportados pelas autoridades chinesas.

O jornal local South China Morning Post (SCMP) divulgou os nomes dos ativistas entregues às autoridades de Hong Kong, citando fonte policial, uma lista que inclui Tsz Lun Kok, com dupla nacionalidade portuguesa e chinesa, de 19 anos.

Os oito membros de um grupo inicial de 12 ativistas detidos em Shenzhen foram deportados após terem cumprido os sete meses de prisão a que foram condenados, em 30 de dezembro de 2020, por “travessia ilegal” das águas da China continental.

Os ativistas, a maioria ligados aos protestos antigovernamentais de 2019, em Hong Kong, foram detidos em 23 de agosto último, quando a lancha em que seguiam com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, foi intercetada pela guarda costeira chinesa.

Dois dos 12 ativistas, Quinn Moon e Tang Kai-yin, deverão continuar detidos em Shenzhen, até cumprirem as penas a que foram condenados, de dois e três anos de prisão, após terem sido considerados culpados de organizar a passagem ilegal da fronteira.

Os restantes dois jovens do grupo inicial de 12 ativistas já tinham sido devolvidos a Hong Kong, no final do ano passado, por serem menores de idade.

O ativista Andy Li foi o primeiro do grupo a regressar hoje à cidade, após ter cumprido os sete meses de prisão a que foi condenado, segundo o SCMP.

Li foi entregue às autoridades de Hong Kong e chegou à estação de polícia de Tin Shui Wai cerca das 10:30, hora local (02:30 da madrugada em Lisboa), devendo permanecer detido.

Os ativistas deverão ainda enfrentar acusações em Hong Kong pela participação nos protestos de 2019, não sendo certo se vão continuar detidos, enquanto aguardam julgamento.

O jovem com dupla nacionalidade portuguesa e chinesa, natural de Hong Kong, já tinha sido detido na antiga colónia britânica em 18 de novembro de 2019, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território.

Kok, que estudava engenharia noutra universidade, é acusado de motim, por ter alegadamente participado numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança, com o objetivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior, segundo o seu advogado em Hong Kong.

O receio dos habitantes de Hong Kong de serem julgados na China continental, ao abrigo de um projeto de lei da extradição apresentado em 2019, desencadeou os protestos sem precedentes que abalaram o território semi-autónomo em 2019.

O projeto acabaria por ser retirado, mas Pequim aprovou em 30 de junho de 2020 uma lei da segurança nacional, com penas que podem chegar à prisão perpétua, levando vários ativistas a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan, para onde fugiram muitos manifestantes em busca de asilo.

A lei foi criticada pela União Europeia (UE) e a ONU, por violar o princípio “Um país, dois sistemas”, acordado na transferência de Hong Kong, em 1997, garantindo à antiga colónia britânica liberdades desconhecidas no resto da China.

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