Número de deslocados em Cabo Delgado duplicou para 93 mil nos últimos dias – OIM

Maputo, 16 out 2025 (Lusa) — Quase 93 mil pessoas fugiram em Cabo Delgado e Nampula devido ao recrudescimento dos ataques terroristas no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, consultado hoje pela Lusa, entre 22 de setembro e 13 de outubro a “escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados” levou a “novos deslocamentos” – num total de 92.792 pessoas, equivalente a 25.476 famílias – essencialmente nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia, Montepuez e Chiúre, Cabo Delgado, mas também em Memba, província de Nampula.

No relatório anterior, com dados de 22 de setembro a 06 de outubro, a OIM apontava 39.643 deslocados, equivalente a 12.335 famílias, sensivelmente nos mesmos distritos.

A OIM contabilizou neste período de menos de três semanas um total de 28.401 deslocados de Mocímboa da Praia, devido à situação de “insegurança” nos bairros 30 de Junho e Filipe Nyusi, arredores de vila sede, palco de pelo menos dois ataques de grupos insurgentes, com vários mortos, durante o mês de setembro, e várias incursões.

No distrito de Balama os dados da OIM apontam para 5.629 deslocados, em Montepuez 4.049, em Mecufi 7.497, em Metuge 6.238 e em Ancuabe 4.079.

No distrito de Chíure — que já em finais de julho registou cerca de 57.000 deslocados devido aos vários ataques de grupos armados de então — há mais 10.221 deslocados nos últimos dias, segundo a OIM.

Além destes distritos de Cabo Delgado, o relatório da OIM refere que os “recentes ataques” em Memba, Nampula – com registo de 51 casas e pelo menos duas escolas e um igreja destruídas -, junto à província vizinha, “também forçaram 39.982 indivíduos a fugirem das aldeias de Chipene e Necoro”, neste caso para o distrito de Erati.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito da Mocímboa da Praia.

Oito anos após esse primeiro ataque, o Governo afirmou este mês que continua a fazer esforços para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades permaneçam nos seus lugares de origem em paz.

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou também este mês como “atos bárbaros” e contra a “dignidade humana” os ataques terroristas no norte do país.

O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques terroristas em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual, com o recrudescimento da violência.

“A situação é bastante instável. Em setembro, o Estado Islâmico de Moçambique (ISM) estava ativo em 11 distritos de Cabo Delgado e também cruzou para Nampula no final do mês”, disse à Lusa Peter Bofin, investigador da ACLED.

Segundo o investigador sénior da organização, que reúne e analisa dados sobre conflitos violentos e protestos em todo o mundo, desde outubro de 2017 foram registados em Cabo Delgado pelo menos “2.209 eventos de violência”, com “6.257 mortes relatadas”, sendo pelo menos 2.631 civis.

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