
Maputo, 21 out 2025 (Lusa) – A administração da australiana South32 diz continuar a negociar com o Governo moçambicano a continuidade da Mozal, uma fundição de alumínio e a maior indústria do país, embora mantenha a previsão de suspensão da atividade em março.
“Apesar dos nossos esforços, as negociações não progrediram de forma a gerar confiança de que a Mozal Aluminium garantirá o fornecimento de eletricidade suficiente e acessível para além de março de 2026”, lê-se numa informação enviada hoje aos mercados da South32, que detém a unidade, acrescentando que “sem o fornecimento de eletricidade necessário”, prevê a sua colocação em regime de manutenção após aquela data.
A empresa australiana assegura no documento, a que a Lusa teve acesso, que continua “a colaborar ativamente” com o Governo moçambicano, com a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB) e com a sul-africana Eskom – que compra a eletricidade da HCB e a vende à Mozal -, “para garantir eletricidade suficiente e acessível” para a fundição, a maior em África e que emprega cerca de 5.000 trabalhadores nos arredores de Maputo.
Na mesma informação aos mercados é referido que a produção vendável da Mozal aumentou 3%, para 93 mil toneladas, no terceiro trimestre de 2025, face ao anterior, “com a fundição operando próximo de sua capacidade técnica máxima”, antes da decisão de agosto, “de interromper o revestimento da cuba devido à incerteza do fornecimento futuro de eletricidade” após março próximo.
A projeção de produção para o ano fiscal de 2026 permanece inalterada em 240 mil toneladas, “com base na continuidade das operações até março de 2026, quando o atual contrato de fornecimento de eletricidade expira”, aponta ainda.
“O Governo moçambicano está e vai continuar naturalmente, primeiro, a acarinhar a Mozal e, segundo, vai continuar a negociar para melhorar os termos de negociação e garantir que ela se mantenha a produzir em Moçambique, com todas as facilidades precisas, mas que não haja nenhum prejuízo a nenhuma das partes”, disse no final de agosto o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa.
Avançou que o Governo está informado e conhece o “conjunto de riscos” associados à crise na maior indústria moçambicana e está a par da rescisão de contratos de algumas empresas fornecedoras da Mozal, mas esclarece que a situação não tem a ver com as negociações em curso.
A Mozal anunciou em agosto que pretende cortar no investimento e dispensar empreiteiros contratados, mantendo apenas a operação até março, alegando não ter condições de continuidade. Pouco dias depois, a Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique revelou que a Mozal rescindiu contratos, de forma “súbita”, com cerca de 20 empresas, deixando pelo menos mil desempregados.
Em 22 de agosto, o Governo moçambicano considerou “extremamente baixa” a contribuição fiscal da maior indústria moçambicana, manifestando interesse em avançar com uma revisão das suas obrigações neste domínio.
A Mozal compra quase metade da energia produzida em Moçambique e tem um peso estimado de pelo menos 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em 18 de agosto, o Presidente moçambicano afirmou que as tarifas de energia propostas pela Mozal, maior indústria moçambicana, levariam ao colapso da HCB, reagindo à ameaça de encerramento da unidade de fundição de alumínio em 2026.
O fornecimento de eletricidade à Mozal é feito através da sul-africana Eskom, que por sua vez compra energia à HCB – 66% do total produzida em 2024 -, que funciona no centro de Moçambique, mas o Governo moçambicano pretende reverter este cenário.
A Lusa noticiou em fevereiro de 2024 que o Governo moçambicano pretende repatriar a partir de 2030, para uso doméstico, a eletricidade que exporta da HCB para a África do Sul desde 1979, conforme consta da Estratégia para Transição Energética em Moçambique até 2050.
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