Montepio: Virgílio Lima diz que mutualista e banco não são um problema para o país

Lisboa, 25 nov 2021 (Lusa) — O candidato à presidência da mutualista Montepio Virgílio Lima considerou, em entrevista à Lusa, que o grupo não é um problema para o país e disse estar a ser estudado um mecanismo para ‘limpar’ do banco os créditos problemáticos.

Virgílio Lima é desde 2020 presidente da Montepio Geral — Associação Mutualista, quando sucedeu a Tomás Correia, que saiu envolto em polémicas. Esta é, portanto, a primeira vez que se candidata a presidente da mutualista, nas eleições de 17 de dezembro, encabeçando a lista A.

Em entrevista à Lusa, Virgílio Lima afirmou que a mutualista e o banco Montepio “não são um problema para o país”.

Segundo Virgílio Lima, o Banco Montepio está a cumprir o plano aprovado pelo acionista (e acompanhado por supervisores), desde logo nos rácios de capital, e, “salvo acontecimentos extremos, não terá necessidades de capital que não consiga resolver endogenamente”.

Na associação, disse, há um “equilíbrio entre ativos e passivos, com fundos próprios positivos em termos individuais e consolidados”. “Portanto, não há qualquer necessidade de soluções descontextualizadas e que não olham em profundidade para realidade objetiva do grupo”, disse.

A Associação Mutualismo Montepio teve até setembro, em base individual, lucros de 17 milhões de euros, segundo o gestor. O banco Montepio teve prejuízos de 14 milhões de euros nos primeiros nove meses (face a prejuízos de 57 milhões de euros obtidos no mesmo período do ano passado).

Segundo Virgílio Lima, se fossem feitas as contas consolidadas do grupo, o resultado seria positivo. Em 2020, a Associação Mutualista Montepio Geral teve um prejuízo consolidado de 86 milhões de euros.

Na entrevista à Lusa, Virgílio Lima falou ainda da solução que está a ser desenhada para retirar do balanço do banco 2.000 milhões de euros em créditos problemáticos e imóveis, passando para uma sociedade-veículo dentro do grupo que os irá gerir.

Segundo explicou, tal permitiria recapitalizar o banco e deixá-lo mais ágil para desenvolver o negócio. Garantiu ainda que esta solução não implica qualquer intervenção de Estado, caso de um mecanismo de garantia: “Se concluirmos pela viabilidade teremos condições para avançar sem qualquer intervenção de terceiros, como nunca tivemos em 181 anos”, disse.

Virgílio Lima afirmou que os ativos sairão do banco sem penalizarem a conta de resultados, pois têm imparidades constituídas e garantias reais correspondentes ao seu valor nominal, e que o plano é juntá-los num veículo que irá “desenvolver uma área de negócio” relacionada com a gestão desses ativos que a prazo dê lucro. Lima disse que isso já foi feito no passado com outros ativos e o objetivo é repetir “a ideia com outra escala e inovação”.

Sobre a possível entrada de um acionista para o banco Montepio, Virgílio admitiu, mas a médio prazo, depois de o banco fazer o trabalho de ‘limpeza’ de balanço e de recuperação do negócio.

“Se entrasse um parceiro agora, iria apropriar-se-ia na proporção da sua entrada [de capital] da recuperação das imparidades. Recuperadas essas imparidades podemos encarar parcerias de desenvolvimento com entidades que não alterem a matriz mutualista do banco e do grupo. A maioria do capital pertencerá sempre à mutualista”, disse.

Ainda sobre o banco, afirmou que quer vender o Finibanco Angola e o banco de Cabo Verde, mas não quis adiantar mais detalhes tendo em conta a autonomia da gestão do banco.

O programa da lista A (‘Mutualismo em Ação’), liderada por Virgílio Lima, diz quer “consolidar e reorganizar o grupo financeiro e a própria associação mutualista”.

Questionado sobre ações práticas que pretendem executar, o gestor respondeu que quer simplificar o grupo e articular melhor as várias áreas. Até ao momento, afirmou, já foram fundidas quatro entidades da área imobiliária e está a ser preparada a fusão de fundos mobiliários e imobiliários.

Considerou ainda que, desde 2015, quando foi imposta uma maior separação entre banco e associação mutualista, foram replicadas estruturas, pelo que a sua equipa irá tentar obter sinergias através de agrupamentos complementares de empresas (ACE), que desenvolvam operações para várias entidades do grupo.

“Queremos reobter sinergias e nessa medida conseguir menores custos, melhores resultados e mais retorno para os associados”, disse.

Questionado sobre se isso implicará nova saída de trabalhadores, Virgílio Lima disse apenas que no Montepio “qualquer ajustamento é feito numa base voluntária e interesse recíproco”.

Sobre os seguros, não estão previstas vendas, mas admitiu a entrada de um acionista também a médio prazo.

“Tendo os seguros já um ciclo de resultados globalmente positivos há três anos, cumprindo planos de negócios e recuperadas essas imparidades, nessa medida podemos encarar mais à frente uma parceria para desenvolvimento”, disse.

Quanto à oferta mutualista, dedicada aos associados, disse que a mutualista quer apresentar mais oferta na área da habitação. De momento, são alugadas 300 habitações a associados a rendas de baixo valor e a sua lista quer aumentar esse número, mas sem indicar metas.

“A ideia é com o apoio da associação, através de construção ou da compra de ativos que decorram da atividade de outras entidades do grupo, podermos fazer arrendamento aos associados e simultaneamente ir constituindo uma forma, através de uma modalidade associativa, de o associado ficar com a habitação no fim de um período”, explicou.

Nas residências para idosos, propõe aumentar a oferta mas em zonas menos centrais, em que os terrenos tenham menos custos e permitam cobrar aos associados valores mais acessíveis. “A ideia é também orientar a oferta em função da procura que veremos dos associados”, disse.

Afirmou ainda que a sua equipa quer desenvolver o apoio em casa, assim como modalidades na área da saúde e na velhice.

Sobre os últimos dois anos em que liderou o grupo Montepio, Virgílio Lima disse que a sua equipa desbloqueou os novos estatutos e resolveu as tensões com a Direção-Geral da Segurança Social sobre o tema, elaborou o plano de convergência e de atividades a 10 anos exigido pela Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF), atualizou o regulamento de benefícios e acalmou a instabilidade interna e externa.

“Arrumámos a casa, estabilizámos o grupo e apresentámos resultados”, disse, sobre o balanço dos últimos dois anos.

A Associação Mutualista Montepio Geral tem 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, em que se inclui o Banco Montepio.

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