Moçambique/Ataques: Falta de dinheiro para acudir à crise humanitária “é muito grave” – ONU

Maputo, 04 mar 2021 (Lusa) – A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, classificou como “muito grave” a falta de recursos financeiros para acudir à crise humanitária no país, reflexo do impacto da covid-19 nos principais países doadores.

“O problema dos recursos financeiros é muito grave”, referiu hoje em declarações à Lusa, em Maputo.

O plano humanitário lançado em dezembro em conjunto pelo Governo moçambicano e ONU, com um apelo à mobilização de 254,4 milhões de dólares (211 milhões de euros) e enfoque em Cabo Delgado, tem merecido “respostas muito positivas”, mas Myrta Kaulard modera as expetativas quanto à concretização das doações.

“Temos de ser realistas: este ano é muito difícil, porque a covid-19 tem implicações negativas para a economia global”, ou seja, “países que normalmente estão entre os que mais contribuem, são os que têm menos recursos que o habitual”, referiu.

“E temos muitas outras crises humanitárias no mundo”, acrescentou.

Fonte da ONU em Maputo detalhou à Lusa que, salvo algumas contribuições iniciais, como uma no valor de 3,6 milhões de dólares (2,9 milhões de euros) do Japão, entregue na quarta-feira, o plano “está severamente subfinanciado”.

A gravidade está ligada a um dilema, destacou Myrta Kaulard.

Aquela responsável considerou que apesar de este ser um momento de limitações para os doadores, é também o momento certo para apoiar Moçambique, sob pena de as necessidades serem muito maiores e mais graves no futuro. 

“Agora vale a pena investir, vale a pena contribuir, porque podemos ter soluções rápidas e isso é essencial para poder orientar de novo o norte de Moçambique para o seu caminho de desenvolvimento”, realçou à Lusa.

“Não fazer isto vai causar muito mais problemas e o país vai precisar ainda de mais recursos” no futuro, assinalou.

O problema do terrorismo, como o que afeta a região nortenha de Moçambique, “é muito complicado e não há uma única solução”, frisou Myrta Kaulard.

“As Nações Unidas estão a aumentar a capacidade e presença [na região], por um lado com resposta humanitária, mas também na vertente de recuperação”, assinalando que “uma das causas mais importantes [para a atual crise] é o défice de desenvolvimento”, pelo que importa apostar em capacitação institucional, cooperação e infraestruturas – assinalando Kaulard a vantagem de poder contar com a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), que “permite integrar ajuda humanitária com reconstrução e desenvolvimento”.

Aquela responsável considerou igualmente importante “o respeito pelos direitos humanos”, “essencial para a paz e desenvolvimento”, assim como uma maior “resiliência ao clima”.

Os ataques de grupos armados começaram em 2017 e o conflito com forças moçambicanas prossegue, sendo que a origem e motivações dos agressores continua por esclarecer – alguns ataques foram reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, mas delimitados entre junho de 2019 e novembro de 2020, deixando o debate aberto.

A crise humanitária resultante inclui 670 mil deslocados e mais de dois mil mortos, numa região identificada há anos como parte de rotas do tráfico internacional de droga, pedras preciosas, madeira e outros recursos.

Cabo Delgado é também a região onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural.

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