
Barcelona, Espanha, 13 dez 2025 (Lusa) – O ministro da Cultura espanhol e porta-voz do Somar, Ernest Urtasun, exigiu hoje uma “remodelação urgente” do Governo para responder aos casos de alegada corrupção que afetam os socialistas, e advertiu contra a “imobilidade” perante estes escândalos.
Intervindo em Barcelona no conselho nacional dos Comuns (formação de esquerda não independentista que faz parte da plataforma Somar), Urtasun referiu-se aos alegados casos de corrupção e assédio que afetam o Partido Socialista (PSOE), e que já desencadearam um debate público sobre a necessidade de uma profunda remodelação do executivo.
A ministra do Trabalho e segunda vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz (Somar), já reclamou abertamente uma remodelação, um cenário que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, tem afastado.
A recusa de Sánchez em empreender esta remodelação é, para o ministro da Cultura, “prematura e muito ousada”, porque significa que “não se está a equilibrar a gravidade do que está a acontecer nestas últimas horas em Espanha” com a “indignação” dos cidadãos.
“Se a resposta for não, qual é a resposta do PSOE à situação tão grave que estamos a viver? A imobilidade é, neste momento, o maior aliado que o PP e a Vox têm, e não podemos suportá-la neste momento em que o legislativo se encontra”, sublinhou Urtasun, referindo-se ao Partido Popular (direita) e ao partido de extrema-direita.
Paralelamente a esta remodelação, Urtasun exigiu que o Governo também recupere “uma agenda social” e tome medidas nesse sentido.
“No final do ano o escudo social expira, como todos sabem, e temos de levar uma atualização ao Conselho de Ministros. É essencial atualizar as medidas”, acrescentou o ministro da Cultura.
Além disso, apelou ao PSOE, liderado por Sánchez, para prolongar “os centenas de milhares de contratos de arrendamento que expiram” em Espanha, o que pode determinar que as famílias possam ou não pagar a renda.
“Precisamos de explicações do presidente [do Governo], de uma remodelação profunda do Governo e de recuperar uma agenda social que começa por renovar a extensão do escudo social”, resumiu o porta-voz de Sumar.
Em causa está uma sucessão de notícias sobre suspeitas de corrupção e de assédio sexual a mulheres que envolvem atuais e antigos dirigentes do Partido Socialista (PSOE), incluindo um ex-ministro (José Luis Ábalos) e um ex-funcionário da Presidência do Governo (Francisco Salazar), ambos, como outros nomes, considerados durante anos dos políticos mais próximos e de confiança de Sánchez.
Nos casos relacionados com assédio sexual há ainda relatos de mulheres que se queixaram nos canais criados para esse efeito no PSOE de terem sido ignoradas ou de o partido ter demorado meses a contactá-las.
Pedro Sánchez é primeiro-ministro desde 2018 e chegou inicialmente ao Governo com uma moção de censura ao então executivo de direita do Partido Popular (PP) por causa de diversos casos de corrupção.
A luta contra a corrupção e o feminismo são precisamente dois pilares do discurso de Sánchez e do PSOE, sublinham agora analistas políticos e editoriais na imprensa face às sucessivas polémicas que estão a envolver os socialistas espanhóis e o Governo.
Sánchez foi reeleito primeiro-ministro pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, depois das eleições de julho do mesmo ano, por uma geringonça de oito partidos de esquerda e direita, incluindo forças nacionalistas e independentistas do País Basco e da Catalunha.
Um desses partidos, o Partido Nacionalista Basco (PNV, conservador), assumiu na sexta-feira, através da líder parlamentar, Maribel Vaquero, que vê que o Governo “está em choque” e não sabe “quanto tempo vai poder aguentar a crise”, apostando em eleições antecipadas em 2026.
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