Mais de 80% dos moçambicanos estão envolvidos no comércio informal

Maputo, 13 nov 2025 (Lusa) – A Associação dos Trabalhadores Informais de Moçambique (Astimo) disse hoje que mais de 80% da população moçambicana economicamente ativa está envolvida no setor informal, o que demonstra falhas estruturais nacionais. 

“Todos os dias chamamos Moçambique de um país rico e concordo, mas para que esta riqueza se faça sentir nos moçambicanos há um elemento muito importante que o país não está a explorar, que é a questão dos recursos humanos”, disse hoje o secretário da Astimo durante a auscultação no âmbito do Diálogo Nacional Inclusivo, em Maputo, pedindo uma aposta na formação como resposta ao problema.

“Enquanto Moçambique não investir na formação, na educação, não vamos ter recursos humanos para tornarmo-nos ricos, como pretendemos”, salientou Armindo Chembane.

Para o responsável, o facto de Moçambique ter mais de 80% da sua população economicamente ativa no setor informar é um indicativo de “não se está a fazer nada”, demonstrando, frisou, que alguma coisa está a falhar: “mesmo que as eleições sejam transparentes, se ainda existirem pessoas pobres, não vai ser nada para o nosso país”.

Na ocasião, Marcelino Silva, representante do Partido Ecologista moçambicano, um dos movimentos extraparlamentares que também participou na auscultação de hoje, disse que muitos jovens nacionais com “níveis académicos suficientes para exercer grandes funções” são desempregados, recorrendo ao empreendedorismo para garantir o sustento.

No âmbito da aplicação do Fundo de Desenvolvimento Económico Local (FDEL), recentemente lançado pelo Governo para impulsionar as economias distritais através do financiamento a pequenos empreendimentos de jovens e mulheres, Silva aponta para supostas cobranças durante o processo de inscrição no fundo, salientando que muitos dos beneficiários não têm condições para arcar com os encargos.

Para o representante do Partido Humanitário de Moçambique (Pahumo), extraparlamentar, as recentes manifestações que tiveram como “pretexto” as eleições gerais de 09 de outubro de 2024 resultaram da “fome”. Os protestos foram convocados pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane – que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder – e resultaram em mais de 400 mortos e a destruição de instituições públicas e privadas,

“O problema dos moçambicanos, principalmente jovens e mulheres, é a fome e a falta de oportunidades, em que quando aparecem essas oportunidades são partidarizadas”, afirmou Crimildo Bule, acrescentando que, enquanto houver fome e desemprego entre a juventude, “sempre se vai sair à rua” para protestos, culminando com mais destruições e mortes.

O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, promulgou em abril a lei relativa ao Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo, com base no acordo com os partidos políticos assinado em 05 de março para ultrapassar a violência e agitação social pós-eleitoral.

A ação culminou com a criação da Comissão Técnica para o Diálogo Nacional e Inclusivo, que deverá tratar, em dois anos, da criação de um novo modelo eleitoral, da revisão da Constituição, da reconciliação, unidade nacional e descentralização governativa do país, mediante consultas públicas com diversos segmentos da sociedade, incluindo partidos políticos.

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