Mais de 4.200 deslocados após ataques em três distritos de Cabo Delgado

Maputo, 15 set 2025 (Lusa) – A “escalada de ataques” e “aumento do medo e violência” por grupos terroristas no norte de Moçambique provocaram nos últimos dias 4.218 deslocados em três distritos de Cabo Delgado, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com um relatório do terreno da OIM, consultado hoje pela Lusa, esta escalada registou-se entre 25 de agosto e 11 de setembro nos distritos de Muidumbe, Mocímboa da Praia e Montepuez.

Acrescenta que esta nova onda de insegurança levou ao “deslocamento de aproximadamente 4.218 pessoas”, equivalente a 1.076 famílias, até 12 de setembro, incluindo 2.171 pessoas “que fugiram de várias localidades” no distrito de Muidumbe, 1.778 pessoas deslocadas de Mocímboa da Praia e 269 do distrito de Montepuez.

“Assistência alimentar, abrigo, itens não alimentares e serviços de proteção foram relatados como as necessidades mais urgentes”, refere a OIM, acrescentando que 204 pessoas refugiaram-se em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, 1.049 em Mueda e 12 em Palma, entre outros.

No final de julho, ataques de grupos terroristas no sul da província de Cabo Delgado já tinham provocado mais de 57 mil deslocados no distrito de Chiúre, segundo relatório da OIM.

A província de Cabo Delgado regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes desde julho, tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe, Meluco e mais recentemente Mocímboa da Praia.

Pelo menos seis pessoas foram mortas e campos agrícolas saqueados durante um ataque de supostos terroristas, no distrito de Muidumbe, em 06 de setembro.

O Governo moçambicano lamentou na terça-feira passada os ataques terroristas registados nos últimos dias em Cabo Delgado, referindo que é papel do Estado perseguir, retardar e travar os ataques para que a população tenha “menos sofrimento possível”.

“Lamentamos este infortúnio, mas não paramos nesta componente da lamentação por isso é que estamos com forças empenhadas para o efeito e detalhes deste serão dados, se este for o caso, pelas entidades de segurança que estão efetivamente no terreno ou então pelos responsáveis ao nível central”, disse Inocêncio Impissa, porta-voz do Conselho de Ministros, após mais uma sessão do órgão, em Maputo.

Numa menção ao ataque ocorrido em Mocímboa da Praia, em que foram mortas quatro pessoas em 07 de setembro, assegurou que as Forças de Defesa e Segurança “estão em campo e no terreno”, sob coordenação dos ministros da Defesa e do Interior, a quem atribuiu a responsabilidade de dar informações sobre o ponto de situação naquela região.

Referiu ainda que é papel do Estado travar a “onda de malfeitores” em Cabo Delgado para que não se registem novos ataques e não se ponha em causa a “tranquilidade dos moçambicanos em qualquer parte do país”.

Pelo menos quatro pessoas foram mortas e uma viatura incendiada após supostos terroristas entrarem a disparar na vila sede de Mocímboa da Praia, disseram à Lusa, fontes locais.

O administrador distrital confirmou as quatro mortes, referindo que já foi restabelecida a ordem naquela região, com as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas a perseguir os supostos terroristas que atacaram a vila.

Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.

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