
Lisboa, 20 nov 2025 (Lusa) — A maior exposição de sempre da Coleção de Arte da Fundação EDP, Anna Maria Maiolino e Paulo Furtado vão marcar em 2026 a temporada de celebração dos dez anos do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.
O artista norte-americano Christian Marclay, os portugueses Pedro Cabrita Reis e Margarida Correia, e a inteligência artificial também estarão representados na nova temporada hoje anunciada pela direção do museu, liderada por João Pinharanda e pelo diretor-adjunto Sérgio Mah.
João Pinharanda indicou que é intenção da Fundação EDP fazer circular no país mais exposições da coleção de arte – cuja totalidade ascende a 2.500 obras – nomeadamente a partir de setembro de 2026, até março de 2027, nas instalações da Fundação Eugénio de Almeida, no âmbito da programação Évora Capital Europeia da Cultura.
Questionado sobre a saída de Sérgio Mah para dirigir o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (CAM) a partir de maio de 2026, Miguel Coutinho, administrador e diretor-geral da Fundação EDP, presente na conferência de imprensa, avançou que “está em curso” a contratação de um substituto para o cargo, mas escusou-se a revelar o nome, “enquanto não estiver oficializado”.
Face à insistência dos jornalistas, Miguel Coutinho disse apenas que será “um homem” e “português” a ocupar o lugar de Sérgio Mah, a quem agradeceu o “excelente contributo” no MAAT, onde ainda assina a curadoria de diversas exposições da nova temporada.
O próximo ano será de celebração para o museu da Fundação EDP, cuja presidente, Vera Pinto Pereira, descreveu como “um projeto muito relevante no panorama da cultura portuguesa, e um polo central em Lisboa e no país”, com um balanço de três milhões de visitantes em 130 exposições realizadas ao longo de uma década.
Para assinalar a data, um dos destaques será a apresentação da maior exposição já realizada da Coleção de Arte da Fundação EDP, com uma centena de obras selecionadas entre as 2.500 que a instituição tem vindo a adquirir desde 2000, quando foi iniciada, composta fundamentalmente por obras de artistas portugueses.
A mostra terá curadoria de João Pinharanda, Sérgio Mah e Margarida Chantre e decorrerá em dois momentos no MAAT Central: o primeiro a inaugurar a 11 de fevereiro e o segundo a 29 de abril, com obras de alguns dos mais 340 artistas que a compõem, desde figuras que se destacaram nos anos de 1970 e 1980 até às gerações mais recentes, integrando em particular artistas nascidos após a Revolução de 1974.
Concebida como uma única exposição, que permanecerá patente até ao início de 2027, a mostra não se organiza segundo critérios temáticos, cronológicos ou por núcleos de artista, segundo os curadores, mas antes “pensada em diálogo com as características espaciais e arquitetónicas” das galerias onde será montada, “explorando afinidades e tensões estéticas e conceptuais entre artistas de diferentes gerações, géneros e disciplinas artísticas”.
Entre os artistas que irão figurar nesta exposição contam-se Gabriel Abrantes, Luisa Cunha, Ana Jotta, Ana Hatherly, Joana Vasconcelos, Paulo Nozolino, João Paulo Feliciano, Jorge Molder, Rui Sanches, Fernanda Fragateiro, Inês Botelho, Francisco Tropa e Helena Almeida.
Além da colaboração com a Fundação Eugénio de Almeida, as celebrações juntam a atribuição do Grande Prémio Fundação EDP, uma “edição especial” do Prémio Novos Artistas, e a continuidade da programação da galeria do Parque de Escultura Contemporânea de Vila Nova da Barquinha, comissariada pela entidade desde 2013.
Em março de 2026, com curadoria da direção do museu, inaugura na sala oval do MAAT Gallery uma exposição da artista brasileira Anna Maria Maiolino intitulada “Terra Poética”, na qual apresentará o seu “maior conjunto escultórico” criado até hoje, usando para isso dez toneladas de argila, segundo os curadores.
A exposição antológica da artista no MAAT Gallery apresentará uma seleção de desenhos, fotos e vídeos dos anos de 1970 a 1980, numa relação com as esculturas em argila que começou a trabalhar a partir da década de 1980 e que serão o centro desta mostra. Uma dezena dessas peças em barro serão modeladas no local, as maiores que já produziu.
Na mesma altura, vai ser inaugurada uma exposição com curadoria de Sérgio Mah, dedicada ao artista Christian Marclay, cuja obra abrange performance, colagem, escultura, instalação, fotografia e vídeo, e que no MAAT irá apresentar um conjunto de 15 trabalhos que abordam temas da cultura urbana realizados entre 1978 e 2026.
Nascido na Califórnia, em 1955, Christian Marclay cresceu na Suíça e vive e trabalha em Londres. Em 2011, recebeu o Leão de Ouro na 54.ª Bienal de Veneza pela obra “The Clock”, reconhecida pela crítica como uma obra de referência do século XXI.
Outra exposição a inaugurar na mesma altura será intitulada “Mais Alto”, com obras de Margarida Correia e curadoria de João Pinharanda, resultado de uma investigação de arquivos, especialmente através da fotografia, arquivos pessoais e institucionais, de comunidades específicas, neste caso, de enfermeiras paraquedistas do exército português de serviço em África, nas décadas de 1960 e 1970.
Noutro ciclo de inaugurações, a partir de setembro, surgirá “Life is the Game”, descrita como “uma experiência imersiva” em Realidade Estendida (XR) (com recurso a capacete de realidade mista) realizada pelo artista e músico Paulo Furtado, “que transporta o participante por uma viagem intemporal, através do ritual de passagem entre a morte e o renascimento”.
Paulo Furtado, conhecido por The Legendary Tigerman, assume a realização e a composição sonora deste projeto cujo desenvolvimento tecnológico é de Yolanda Correia, e tem argumento e conceito criativo do realizador Eduardo Brito.
Ao mesmo tempo, com curadoria de João Pinharanda, será inaugurada a exposição de Pedro Cabrita Reis intitulada “com o coração livre de cuidados”, na sala oval do MAAT Gallery, ocupada com uma enorme instalação de pintura e outras peças de pequeno porte, em desenho e escultura.
No início de outubro, com curadoria de Antonio Somani, a inteligência artificial estará em foco com “Energias da IA”, que reunirá uma série de obras recentes, muitas delas exibidas pela primeira vez, de artistas contemporâneos que abordam as energias que alimentam essas tecnologias – eletricidade, água, minerais críticos, computação, trabalho humano, capital — e as energias do processo “libertadas em todas as culturas, sociedades e ambientes, em termos de análise e geração de dados, previsão, vigilância, influência, captura de atenção, emoção e controlo mental”.
Entre os artistas confirmados estarão Hito Steyerl, com a instalação “Mechanical Kurds” (2025), que aborda o fenómeno do microtrabalho colaborativo utilizado para treinar modelos de IA, ou Kate Crawford & Vladan Joler, com um novo projeto sobre a dimensão ´metabólica´ das tecnologias de IA intitulado “Metabolic Machines” (2026), produzido especificamente para esta exposição.
Outras obras de artistas portugueses e estrangeiros estão atualmente a ser selecionadas para essa exposição, segundo a direção do museu inaugurado em outubro de 2016 após a construção de um edifício desenhado pelo estúdio britânico de arquitetura AL_A – Amanda Levete Architects, e cuja área abrange a Central Tejo, central termoelétrica construída em 1908 e reconvertida em museu.
AG // TDI
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