Livro sobre acordo de Bicesse “retrata a história de dois povos” – Paulo Rangel

Lisboa, 17 nov 2025 (Lusa) – O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal considera que o livro hoje apresentado sobre o acordo de Bicesse, que pôs fim à guerra civil em Angola, retrata “a história de dois povos”.

“A narração deste livro é a história de dois povos, o povo angolano e o povo português, que se cruzaram na guerra e nas guerras, nas suas e nas dos outros”, disse Paulo Rangel, acrescentando que “a guerra colonial, que mercê da sua profunda injustiça, foi causa da revolução de 1974, revolução que mercê dessa sua causa, foi também o propulsor principal da autodeterminação do povo angolano”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros falava no encerramento da cerimónia de lançamento do livro “Bicesse, o Caminho da Paz”, que teve a coordenação de Sónia Neto e reúne os depoimentos de 22 intervenientes na longa ronda de negociações que, pela primeira vez, sentou frente-a-frente elementos do Governo angolano (liderado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, então partido único) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), sob mediação de Portugal e com Estados Unidos e União Soviética como observadores.

“Foi aqui que se viveu a tensão desconfiante e hesitante que precedeu o mais famoso aperto de mão da história de Angola; tantos dos aqui presentes foram atores e testemunhas desse caminho longo, ‘Caminho Longe’, para ecoar o canto lusófono de Cesária Évora, desse ‘caminho Longe’ para a paz”, vincou o governante, acrescentando: “Evoco o caminho Longe num triplo sentido: porque 34 anos já o fazem Longe, porque levou e tem levado Angola Longe, e porque foi efetivamente um longo caminho, uma longa travessia no mar inóspito e revolto”.

O lançamento do livro decorreu na mesma sala (no Ministério dos Negócios Estrangeiros) onde o então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e o líder da UNITA, Jonas Savimbi (ambos já falecidos), assinaram, em 31 de maio de 1991, sob o olhar do então primeiro-ministro português, Aníbal Cavaco Silva, presente na cerimónia desta tarde, os acordos que calaram as armas e abriram caminho à revisão constitucional que acabou com o regime de partido único e permitiu a realização das primeiras eleições livres no país (em setembro de 1992).

 

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