Joaquim Chissano diz que é preciso “sangue novo” na diplomacia moçambicana

Maputo, 20 nov 2021 (Lusa) – O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, disse hoje que é preciso “injetar sangue novo” na diplomacia nacional para “rejuvenescer” a abordagem pragmática do país, apelando a um conhecimento multifacetado para enfrentar um mundo em constante evolução.

“A ação diplomática requer uma redefinição clara da orientação da política externa. Isso pode facilitar a realização de metas concretas por cada missão e agentes diplomáticos nacionais”, declarou Chissano, antigo chefe de Estado, de 1986 a 2005, durante a outorga do título de doutor ‘honoris causa’, o décimo que já recebeu, em Maputo. 

O título foi atribuído em reconhecimento ao seu papel na diplomacia e resoluções de conflitos no país, pela Universidade Joaquim Chissano (UJC), e o antigo dirigente – que foi também o primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, e padrinho daquela instituição de ensino desde 2018, lembrou o seu percurso na diplomacia nacional.

“Em função da minha experiência governativa, fui percebido como sendo um ator merecedor de tamanha confiança e privilégio, tive a honra de partilhar os meus prestígios para alguns países amigos que, ao seu nível, enfrentavam desafios internos complexos”, explicou.

Chissano ascendeu à Presidência de Moçambique em 1986, na sequência da morte, num acidente de aviação, de Samora Machel, primeiro Presidente moçambicano pós-independência, tendo chefiado o Estado durante os últimos oito anos do regime monopartidário da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975, ano da independência).

Seguiram-se 10 anos correspondentes a dois mandatos consecutivos resultantes de eleições gerais, após a abertura do país ao pluripartidarismo.

Para o antigo Presidente, “Moçambique precisa de manter um espírito de portas abertas, de modo a que possa cooperar com todos os Estados no sistema internacional, independentemente das suas linhas ideológicas”, reiterou, acrescentado que o esforço de engajamento da diáspora nacional precisa também de ser fortalecido.

Com muitos moçambicanos no exterior “que podem ajudar a desenvolver Moçambique”, Joaquim Chissano destacou a necessidade de “injetar sangue novo” na diplomacia nacional, para “rejuvenescer a abordagem e visão pragmáticas” do país e do mundo que o rodeia e, por forma a melhor a sua preparação para os desafios que o setor exige.

“Considerando os desafios contemporâneos derivados das incertezas globais, a diplomacia moçambicana deve ter formação multifacetada em matérias ligadas à diplomacia e relações internacionais. Esse conhecimento multifacetado irá munir o diplomata de ferramentas adequadas para melhor fazer frente a um mundo cada vez mais complexo e em constante evolução”, afirmou.

Para o antigo chefe de Estado, é “conveniente” que se publique uma obra científica que discuta a contribuição da diplomacia na construção do Estado: “deste modo, a sociedade melhor compreenderia a relevância deste setor estratégico para a agenda nacional”, já que a diplomacia “ajudou a trazer soluções para os problemas de crise alimentar e de insegurança em vida em Moçambique”.

Joaquim Chissano agradeceu a distinção, entregue no âmbito dos 50 anos da independência de Moçambique, comemorados em 25 de junho, e referiu ainda que atualmente a diplomacia tem contribuído na busca de soluções contra a crise ambiental e para o desenvolvimento económico e social.

 

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