João Vieira diz que trabalho explica recorde de participações em mundiais de atletismo

*** João Pedro Simões, enviado da agência Lusa ***

 

Tóquio, 12 set 2025 (Lusa) — O marchador português João Vieira justificou hoje o recorde absoluto de 14 presenças em Campeonatos do Mundo de atletismo com o trabalho desenvolvido ao longo de toda a carreira.

Aos 49 anos, o capitão da seleção nacional vai ser o primeiro dos 32 portugueses a disputar a 20.ª edição dos Mundiais, em Tóquio, no sábado, às 07:30 locais (23:30 de hoje, em Lisboa), ultrapassando o também marchador espanhol Jesús Ángel García, que disputou 13 edições entre 1993 e 2019.

“Para mim, ser o atleta com mais Campeonatos do Mundo é um orgulho bastante grande. É o resultado de todo o trabalho que tenho feito na minha carreira desportiva e, por isso, tenho de me sentir orgulhoso e satisfeito, por passar a ser o homem com mais campeonatos”, afirmou, 26 anos depois da sua estreia na competição.

O atleta do Sporting, quinto nos 50 quilómetros marcha dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, encontra muitas diferenças com essa prova, disputada em Sapporo, em 2021.

“Agora vai ser diferente, porque vai ser em Tóquio. Esses Jogos foram na era do covid-19, ninguém pôde visitar a cidade, o público não pôde ir aos estádios, mas, agora, vamos para esta alegria a este público japonês e ter também a alegria que é fazer desporto”, registou.

João Vieira vai juntar o recorde absoluto de participações ao do mais velho medalhado em Campeonatos do Mundo, com a prata alcançada nos 50 quilómetros em Doha2019, então aos 43 anos, com a mesma ambição, mas objetivos diferentes.

“O objetivo principal é, tal como aconteceu em Doha, terminar a competição. Mas eu tenho os pés bem assentes na terra e sei que já não tenho capacidade de lutar por uma medalha. Por isso, o principal vai ser terminar e sair desta pista [enquanto aponta para o Estádio Nacional do Japão, onde termina a prova] com a cabeça erguida”, sublinhou.

Apesar de, aqui e ali, ir referindo a possibilidade de terminar a carreira, João Vieira recusa apontar uma data, ou sequer excluir enfrentar os seus 15.ºs Mundiais, em Pequim2027, ou os sétimos Jogos Olímpicos, em Los Angeles2028, mesmo depois de ter falhado Paris2024.

“Não tenho nenhum prazo. Antes de chegar ao Japão, na viagem de Rio Maior para Lisboa, com a minha treinadora e esposa [a antiga marchadora olímpica Vera Santos], ficámos de pensar em mais dois anos até aos Mundiais de Pequim. E, depois, mediante o que o congresso da World Athletics decidir, pensar nos Jogos”, revelou Vieira.

Em causa está a remota possibilidade de integrarem a distância da maratona no programa olímpico da marcha, depois de terem excluído os 50 quilómetros em Paris2024, substituindo-a por uma estafeta mista, e também ter sido reduzida a prova mais longa em Mundiais para os 35 quilómetros.

“Se puserem a maratona, fica tudo em cima da mesa para continuar até lá e já sabem que o João é um bocado de surpresas e também teimoso. Se eu e a minha treinadora definirmos esse objetivo, vou correr atrás dele”, assegurou.

Mesmo estando prestes a conseguir um feito inédito, João Vieira assegura encarar Tóquio2025 como “uns campeonatos iguais aos outros todos”, para os quais fez a mesma promessa de sempre: “Nunca fui atleta de prometer medalhas, de prometer lugares, mas sempre prometi trabalho e cumpri”.

Já este ano, no passado dia 18 de maio, Vieira fixou o recorde nacional dos 35 quilómetros marcha em 02:31.41 horas, que lhe valem o 40.º lugar do ranking mundial.

Em contraponto, Joana Pontes, de 25 anos, faz, à mesma hora, a estreia absoluta em Mundiais, nos 35 quilómetros, depois de ter sido desclassificada nos 20 dos Europeus Munique2022.

“As sensações têm sido boas desde que cá cheguei. O treino e a aclimatação correram bem, fui sentindo-me cada dia melhor, mesmo com a humidade e com o calor. Claro que são os meus primeiros mundiais e há muitas emoções, uma grande alegria e entusiasmo por poder competir aqui. Venho com a expectativa de me sentir bem, fazer uma boa prova e lutar por uma boa marca”, explicou a atleta do Leiria Marcha Atlética.

Com 03:11.18 horas como recorde pessoal na distância, obtidos já este ano, em 13 de julho, Joana Pontes, 45.ª da hierarquia mundial, assume algumas preocupações com a prova de sábado.

“Talvez o que me preocupe mais seja o rigor técnico, que temos de ter todas as competições, mas que num mundial é ainda mais importante. Logo, a preocupação é marchar o melhor possível, cumprir as regras e, dentro disso, conseguir andar nos meus ritmos e ter boas sensações para conseguir uma boa prova”, salientou.

Os marchadores João Vieira e Joana Pontes são os primeiros dos nove portugueses a competir no dia inaugural dos Mundiais Tóquio2025, antes de Irina Rodrigues e Liliana Cá, no lançamento do disco, Agate Sousa, no salto em comprimento, e Tsanko Arnaudov no lançamento do peso, enfrentarem as qualificações, e Etson Barros, nos 3.000 metros obstáculos, Lorene Bazolo, nos 100 metros, e Salomé Afonso, nos 1.500 metros, as eliminatórias.

A 20.ª edição dos Campeonatos do Mundo de atletismo decorre entre sábado e 21 de setembro, em Tóquio, com a presença da maior delegação portuguesa de sempre, com 32 convocados.

 

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