Irão responsabiliza operador de defesa aérea pelo derrube de avião ucraniano em 2020

Teerão, 17 mar 2021 (Lusa) — A Agência de Aviação Civil do Irão insistiu no seu relatório final hoje divulgado em acusar um operador do sistema de defesa aérea pelo derrube de um avião ucraniano em janeiro de 2020, que vitimou os 176 ocupantes.

O relatório, de 285 páginas, concluiu que “o avião foi identificado como um objetivo hostil devido a um erro do operador do sistema defensivo aéreo situado nos arredores de Teerão”.

Devido a este equívoco, “disparou dois mísseis” contra o aparelho, um Boeing 737-800 da Ukranian International Airlines (UIA), que tinha descolado do aeroporto de Teerão na manhã de 08 de janeiro passado com destino a Kiev.

A Agência de Aviação Civil considerou que “a explosão do míssil perto do avião foi a causa do seu derrube”, e que o plano de voo do Boeing 737-800 “não teve interferência na origem desse erro”.

O documento recorda que um erro de 105 graus na colocação de uma das unidades do sistema de defesa aéreo implicou que o avião fosse identificado como uma ameaça e que ocorreram problemas de comunicação entre o operador e o centro de coordenação.

Este incidente originou uma forte controvérsia, após o Irão ter negado durante três dias o disparo contra o avião pelo seu sistema de defesa aéreo, enquanto a Ucrânia manifestava suspeitas sobre um derrube acidental do aparelho.

As Forças Armadas do Irão encontravam-se em alerta máximo nesse dia, após terem efetuado algumas horas antes um ataque contra um base militar no Iraque com a presença de tropas norte-americanas, e aguardavam uma ação de represália pelos Estados Unidos.

Este ataque foi a resposta ao assassínio cinco dias antes, por um ‘drone’ [aparelho aéreo não-tripulado] norte-americano no aeroporto de Bagdade, do poderoso general iraniano Qasem Soleimani.

O Governo iraniano aprovou uma indemnização de 150.000 dólares (cerca de 126.000 euros) para cada uma das 176 vítimas: 82 iranianos, 63 canadianos, a maioria com dupla nacionalidade iraniana, 11 ucranianos (dois passageiros e nove tripulantes), dez suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos.

Um ano após o sinistro, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, pediu justiça para as vítimas e suas famílias, assegurando que “não é possível que um crime como este fique sem resposta”.

Zelenskiy sublinhou “impossível” que o Irão não estivesse informado que o aparelho que efetuava a rota Teerão-Kiev era um avião de passageiros, e que a generalidade da “comunidade internacional considerou tratar-se de um crime”.

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