
Teerão, 22 dez 2025 (Lusa) — O Irão reiterou hoje que rejeita abrir negociações sobre o seu programa balístico e sublinhou que os mísseis que desenvolve têm como objetivo “defender o país” e “dissuadir qualquer agressor que equacione um ataque” contra a República Islâmica.
“O programa de mísseis do Irão foi desenvolvido para defender o país, não para negociações”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmail Baqaei, durante uma conferência de imprensa em Teerão, segundo noticiou a agência iraniana Mehr.
“As capacidades defensivas do Irão, concebidas para dissuadir qualquer agressor de equacionar um ataque contra o Irão, não são um assunto de discussão”, declarou, antes de criticar os países ocidentais por atacarem Teerão devido ao seu programa balístico enquanto fornecem armamento a Israel.
Neste sentido, o porta-voz salientou tratar-se de “uma clara contradição” e “um evidente fracasso moral pelo qual os Estados Unidos e os países que apoiam o regime israelita devem ser responsabilizados”, insistindo que as Forças Armadas iranianas são plenamente capazes de defender o país em caso de ataque.
“As nossas Forças Armadas sabem muito bem como defender-se quando necessário. Independentemente das campanhas maliciosas levadas a cabo por meios de comunicação social, a nação iraniana e todos os seus pilares de governação continuarão concentrados nas suas responsabilidades e prosseguirão o seu trabalho”, acrescentou.
Os Estados Unidos e outros países ocidentais têm criticado em várias ocasiões o programa balístico do Irão e defendido que este seja incluído nas negociações em torno do programa nuclear de Teerão, algo que o país rejeita, insistindo igualmente que as suas capacidades nucleares têm fins exclusivamente civis e não visam o desenvolvimento de armas de destruição maciça.
Por outro lado, Esmail Baqaei destacou que os contactos com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) continuam e reiterou que o Irão manterá o cumprimento dos seus compromissos com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), num contexto de tensões com o organismo da ONU após a ofensiva lançada por Israel em junho contra o país, que provocou mais de 1.100 mortos e visou, com a ajuda dos Estados Unidos, várias instalações do programa nuclear iraniano.
“A questão é saber se foi o Irão que causou a interrupção da supervisão ou se foram os responsáveis por ataques ilegais ou criminosos contra estas instalações”, argumentou, numa referência aos ataques de Israel e dos Estados Unidos contra centros nucleares iranianos durante a ofensiva de junho, conhecida como a guerra dos 12 dias.
A 20 de novembro, o executivo iraniano deu por “oficialmente terminado” o acordo alcançado em setembro, no Egito, com a AIEA, após a aprovação de uma resolução pelo Conselho de Governadores do organismo que exigia a Teerão que informasse “sem mais atrasos” sobre o estado das quantidades de urânio enriquecido armazenadas e das instalações nucleares bombardeadas.
O Irão assinou em setembro um novo acordo de cooperação com a AIEA, após a deterioração das relações na sequência da ofensiva israelita, embora a decisão tomada dias antes pelo chamado grupo E3 — Reino Unido, França e Alemanha — tenha voltado a agravar as tensões.
Em finais de agosto, os três países europeus decidiram ativar o mecanismo para reimpor sanções da ONU contra o Irão, por incumprimento em relação ao seu programa nuclear.
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