
Vila Nova de Foz Côa, Guarda, 14 dez 2025 (Lusa) – O novo presidente da Fundação Côa Parque tem um programa e uma estratégia delineada para atrair visitantes tanto ao Museu do Côa como ao Parque Arqueológico, em que a investigação científica e as exposições temporárias assumem destaque.
Em entrevista à agência Lusa, João Paulo Sousa, que assumiu a presidência da fundação no passado mês de setembro, explica que está a dirigir há três meses a instituição, com sede em Vila Nova de Foz Côa, no distrito de Guarda, com o objetivo de tirar o melhor partido da sua organização e funcionamento.
Reforçar a investigação, valorizar recursos humanos, promover a digitalização do património, manter a regularidade das exposições temporárias, com a obra do escultor Alberto Carneiro já entre as propostas, são algumas etapas de uma estratégia que procura eliminar constrangimentos, atrair visitantes, aumentar a dimensão do Côa no panorama nacional e internacional, assumindo a sustentabilidade ambiental como um dos seus mais decisivos dos vetores.
“Quando tomamos posse para dirigir uma fundação como esta, é importante perceber o que os estatutos dizem e qual o modelo de gestão que está instituído. Posto isto, percebi que havia alguns constrangimentos e apenas um coordenador científico, mas tentei agilizar dentro dos 40 funcionários deste organismo e ver quais estariam melhor preparados para coordenar todo o processo, com todos os recursos humanos disponíveis”, disse João Paulo Sousa à agência Lusa.
O novo presidente da Fundação Côa Parque explicou que foi buscar alguns elementos menos aproveitados na estrutura, e centrou atenção nas candidaturas a fundos, algumas a programas de investigação, num total de dois milhões de euros.
“Senti que era altura de dar uma nova roupagem e organização [nesta área], e ter alguém que coordenasse de facto as candidaturas. [Para a] sobrevivência da fundação é fundamental criar novos projetos, ir mais além, não só para aumentar o número de visitantes [e a dimensão] do nome do Côa. É preciso estarmos mais organizados, […] cada um dar um contributo para um rumo só. Temos candidaturas na ordem dos dois milhões de euros que temos de concretizar, e é preciso continuar outras já no terreno”.
Estas candidaturas e os projetos a elas associados passam por instrumentos como, entre outros, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Mais Turismo e as bolsas, até agora, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
“Temos de perceber os prazos e as verbas das componentes nacionais para a sua concretização, e por isso temos de ter alguns responsáveis experientes, o que é uma mais-valia”, afirmou.
Para João Paulo Sousa, em 2026, é necessário “haver reforço de verbas para investigação”, que evite a perda de recursos humanos e favoreça o plano cultural e científico do Arte do Côa, porque a sua importância vai muito além do espaço nacional.
“Depressa percebi, ao longo dos anos [desde a defesa das gravuras e depois como vogal do conselho de administração da fundação] quais são as mais valias do Vale do Côa. Este território tem algumas missões fundamentais: a investigação, a preservação e divulgação do património”, frisou João Paulo Sousa.
“Temos mais de 17 mil gravuras sinalizadas. Precisamos de escrever tudo aquilo que encontramos, fazer o registo fotográfico, digitalizar em 3D”, divulgar este património.
Por isso, “é preciso ir à procura de investigadores”, plano “onde existe uma lacuna”, reconheceu, afirmando ser necessário “recuperar [recursos humanos perdidos], porque houve alguns de grande craveira” que partiram.
“Já falei com alguns dos fundadores desta instituição e com a Associação Portuguesa de Arqueólogos, mas estamos de facto a perder recurso humanos”, afirmou.
Além do mais, adianta o presidente da fundação, “tudo o que vai ser feito deve ser em nome da sustentabilidade ambiental, que será uma dos princípios base do trabalho a desenvolver no Vale do Côa”.
Como exemplo, João Paulo Sousa fala da degradação do parque automóvel, que está “debilitado, [pois] até ao momento não houve nenhum investimento nesta matéria, ou seja desde há mais de 30 anos”.
“A minha missão é tentar arranjar uma forma de fazer uma mudança no parque automóvel”, substituir “jeeps com mais de 30 anos”, que são um problema em termos de “polução ambiental e de segurança”.
“Temos de arranjar uma forma de inverter esta situação, mas para já ainda não sei como. Mas é prioritário”, alertou.
No que toca à programação de exposições temporárias, João Paulo Sousa disse que o programa está fechado até 2027.
“Já fizemos candidaturas ao programa Interreg para ir à procura de parceiros”, e foram estabelecidos contactos com a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.
O presidente da fundação considera as exposições temporárias fundamentais, sobretudo na perspetiva de conjugar a arte contemporânea com a arte do Côa, “mas sempre com verbas bastante equilibradas, [porque] os orçamentos são parcos”, afirmou.
Sem querer revelar o programa expositivo já definido, antes da publicação do relatório de atividades, João Paulo Sousa destacou “uma grande mostra” dedicada ao escultor Alberto Carneiro.
Outra das atuais preocupações passa pela reabilitação das salas do museu, 15 anos depois da inauguração: “Temos de criar algumas prioridades. O tempo passa e temos de ser criativos. Temos de ter capacidade de surpreender quem visita. Não podemos parar. Temos de ser pró-ativos e ir ao encontro daquilo que se faz noutros museus”.
Quanto ao Programa Especial do Parque Arqueológico (PEPA) do Vale do Côa, João Paulo Sousa sublinhou a sua reativação, com o despacho conjunto dos ministérios da Economia e Coesão Territorial e da Cultura, Juventude e Desporto, publicado no final de outubro. “O PEPA do Vale do Côa estará concluído dentro de dois anos”, elemento “fundamental para se definir um plano estratégico para este território”, explicou.
Sobre os visitantes do Museu do Côa e do Parque Arqueológico, João Paulo Sousa fala de um crescimento nos 11 meses deste ano, mantendo porém valores em redor dos 70 mil, 75 mil.
O impacto, no entanto, vai mais longe, tendo em conta “visitantes do museu e do parque arqueológico, [das visitas] dos operadores privados, dos serviços educativos como o Ciência Viva”. Somando tudo, o presidente da Fundação Côa Parque “poderia dizer que [estão] ultrapassados os 127 mil visitantes de 2024”.
“Se juntarmos todos os visitantes às diversas atividades promovidas pela Fundação Côa Parque, dentro ou fora de portas, vamos ultrapassar os 130 mil visitantes em 2025”, concretizou.
Como uma imensa galeria ao ar livre, o Parque Arqueológico do Vale do Côa ocupa 20 mil hectares de terreno que estão distribuídos pelos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, a que se junta o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, com manifestações de arte rupestre.
O Parque Arqueológico assinala este mês o 27.º aniversário da sua classificação pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, como Património Mundial da Humanidade.
O Museu do Côa foi inaugurado em 30 de julho de 2010.
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