Hong Kong pede a Londres justiça para suspeitos de interferência estrangeira

Hong Kong, China, 14 mai 2024 (Lusa) — O Governo de Hong Kong exigiu que o Reino Unido “trate de forma justa” os três homens acusados de ajudar os serviços de informações da região semiautónoma chinesa e de interferência estrangeira.

Num comunicado divulgado na segunda-feira à noite, as autoridades de Hong Kong pediram ainda que Londres “proteja de forma efetiva os direitos e interesses legítimos” do diretor do escritório comercial de Hong Kong na capital britânica, Yuen Chung Biu.

O Governo de Hong Kong exigiu ainda que o Reino Unido “garanta que o funcionamento normal” do escritório “não seja afetado”.

Yen, 63 anos, Peter Wai Chi Leung, 38 anos, e Matthew Trickett, 37 anos, foram detidos no início de maio e compareceram na segunda-feira no Tribunal de Magistrados de Westminster, em Londres.

Durante uma curta audiência, os homens limitaram-se a confirmar a identidade e morada e foram libertados pelo juiz sob medidas de coação.

Os homens são acusados de recolher informações e realizar atividades de vigilância “suscetíveis de ajudar materialmente um serviço de informações estrangeiro nas suas atividades em relação ao Reino Unido” entre 20 de dezembro de 2023 e 02 de maio de 2024.

Foram também acusados de forçar a entrada numa habitação a 01 de maio.

A próxima audiência em tribunal está marcada para 24 de maio.

O Governo de Hong Kong não comentou as acusações, mas sublinhou que o escritório comercial da região em Londres tem como missão “manter uma ligação estreita com interlocutores do governo local, empresas, grupos de reflexão e vários setores”.

A resposta das autoridades de Hong Kong contrasta com a China continental, que acusou o Reino Unido de “interferir nos assuntos de Hong Kong” e ameaçou com “retaliações firmes e fortes” se o país não “corrigisse os seus erros”.

Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em Hong Kong “condenou veementemente” o Governo britânico por “fabricar acusações, prender arbitrariamente cidadãos chineses e difamar” o governo de Hong Kong.

Na semana passada, dois britânicos, incluindo um assessor parlamentar britânico, também foram acusados de espionagem a favor da China, tendo o julgamento sido agendado para o próximo ano, embora não tenha sido feita nenhuma relação entre os dois casos.

Hong Kong, região vizinha de Macau, tem sido uma fonte específica de tensões entre o Reino Unido e a China devido à sua história como antiga colónia britânica, devolvida ao controlo chinês em 01 de julho de 1997.

Estas acusações vêm juntar-se a uma série de casos que alimentam as suspeitas de espionagem chinesa em países europeus.

Em setembro de 2022, a organização Safeguard Defenders tinha acusado a China de manter 54 esquadras de polícia clandestinas no estrangeiro, incluindo três em Portugal (Lisboa, Porto e Madeira).

A organização disse que estes centros são utilizados para pressionar e ameaçar dissidentes, controlar fugitivos da China e procurar o seu regresso àquele país.

Na altura a China reconheceu que mantém “esquadras de polícia de serviço” no estrangeiro, negando o exercício de “atividades policiais”.

 

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