Fraca adesão de jovens compromete Forças Armadas em Cabo Verde

Praia, 03 jul 2025 (Lusa) — Um estudo preliminar, apresentado hoje em Cabo Verde, revela que a fraca adesão dos jovens às incorporações está a reduzir o número de militares, comprometendo o funcionamento das Forças Armadas, e recomenda melhorias no recrutamento.

“Há problemas nas fases de inspeção e incorporação, que são sentidos por todos. Neste momento, as Forças Armadas enfrentam um grave défice de efetivos, devido à fraca afluência dos jovens cabo-verdianos à inspeção e, sobretudo, à incorporação”, afirmou o brigadeiro-general Antero Matos.

O responsável pelo estudo, apresentado na cidade da Praia, exemplificou que, apesar da necessidade semestral de cerca de 400 jovens, a última incorporação não chegou aos 300.

“Isso dá uma ideia clara da situação grave no domínio do recrutamento que existe no país”, considerou.

Por isso, o estudo defende um esforço de sensibilização junto dos cidadãos em idade de prestação do serviço militar, através de ações nas escolas, universidades e outros espaços frequentados por jovens, para que tomem maior consciência das suas obrigações.

“Constata-se que muito poucos jovens cumprem atualmente as suas obrigações militares, o que leva a crer que o incumprimento passou a ser encarado como algo normal”, referiu.

Há necessidade ainda de melhorar as condições para a prestação do serviço militar. 

“O modo como os quadros das Forças Armadas recebem e lidam com os jovens precisa de ser revisto”, referiu.

O documento analisa também os diferentes sistemas de recrutamento, avaliando qual se adapta melhor ao contexto cabo-verdiano.

“Através do sistema obrigatório, conseguimos garantir um fluxo regular de jovens nas Forças Armadas, desde que se cumpram os dispositivos legais, o que não acontece há anos. Além disso, é mais económico, pois o custo de um soldado conscrito é inferior ao de um voluntário, e assegura um contingente estável sempre que necessário”, explicou.

Contudo, reconhece vantagens no regime de voluntariado, como a permanência prolongada de militares nas fileiras, o que favorece a disciplina, coesão e manutenção de equipamentos sensíveis, que exigem maior formação técnica.

“A verdade é que, em Cabo Verde, convivem os dois regimes desde o final dos anos 90, quando se instituiu o contrato com as Forças Armadas e o voluntariado. Funciona, mas com falhas, devido a diversos problemas que afetam o recrutamento”, disse.

Antero Matos considerou que o sistema misto pode ser aprofundado, combinando o melhor de ambos os modelos.

O estudo propõe ainda o reforço dos incentivos materiais e morais para atrair jovens, como o aumento da compensação financeira, a oferta de formação profissional através do programa ‘soldado cidadão’, e o apoio do Estado no pagamento de propinas no ensino superior ou técnico-profissional.

A nível simbólico, sugere-se a criação de medalhas específicas para os militares em regime de prestação mais curta, uma vez que as distinções atuais se destinam essencialmente ao pessoal do quadro permanente.

Defende-se também a criação de um ambiente mais acolhedor no momento do ingresso.

O estudo visa implementar uma política de incentivo à entrada e permanência de militares nas Forças Armadas, bem como facilitar a sua reintegração no mercado de trabalho após a saída da tropa.

 

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