
Lisboa, 17 nov 2025 (Lusa) — Mais de vinte festivais portugueses de cinema juntaram-se numa associação para ter “uma voz coletiva” num momento em que o setor “vive uma certa crise de perda de público”, disse hoje à Lusa o programador Stefano Savio.
De acordo com Stefano Savio, responsável pela Festa do Cinema Italiano, Festa do Cinema Francês e porta-voz da comissão instaladora, a TELA — Associação Nacional de Festivais de Cinema está a ser preparada há cerca de um ano e deverá ser formalizada em breve, com a eleição da direção e divulgação da agenda de objetivos e reivindicações.
O impulso para criar a associação partiu da “necessidade de encontrar uma representatividade dos festivais do cinema” junto de interlocutores como o Instituto do Cinema e Audiovisual e de “juntar o universo de eventos muitos diferentes entre eles, mas com um papel muito importante no ecossistema do cinema de autor em Portugal”, disse o programador.
Da comissão instaladora fazem parte, entre outros, os organizadores dos festivais DocLisboa, Olhares do Mediterrâneo, IndieLisboa, Porto Femme e também o Caminhos do Cinema Português, em Coimbra, durante o qual a associação TELA foi oficialmente apresentada no domingo.
Segundo Stefano Savio, em Portugal o universo de festivais de cinema em Portugal rondará a meia centena, tendo já aderido 24 eventos à associação TELA, entre festivais e mostras não competitivas de todo o país, abrangendo documentário, curtas-metragens, comédia, cinema de terror ou cinema de animação.
De acordo com o porta-voz, a associação quer produzir ferramentas e dados de análise para entender “como é que os festivais se colocam entre a produção, a distribuição, a exibição, a comunicação, a formação de públicos”.
“É um momento importante perceber onde é que os festivais se colocam no setor. O setor vive uma certa crise de perda de público. […] É muito perigoso neste momento criar um efeito de canibalização entre público de festivais e públicos de salas de autor. A situação não está nada positiva”, alertou Stefano Savio.
Questionado sobre o papel dos festivais perante um cenário de exibição desigual em termos geográficos no país, Stefano Savio disse que “o exemplo dos festivais demonstra que há público de cinema de autor, muito curioso, muito consistente, muito preparado, mas podia continuar se houvesse mais espaços”.
“Um grande problema neste momento é a ausência de um suficiente número de salas de autor, com porta para a rua, que possam hospedar um determinado tipo de cinema. […] Há um afunilamento terrível na proposta cultural, há muito cinema português, europeu de autor para distribuir”, disse.
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