
Lisboa, 12 dez 2025 (Lusa) — As exéquias da atriz Glória de Matos, que morreu na quinta-feira, aos 89 anos, em Lisboa, realizam-se no próximo fim de semana, também na capital.
O velório realiza-se no sábado, a partir das 18:00, na Igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, onde, no domingo, pelas 15:30, é celebrada missa de corpo presente, seguindo-se o funeral para o Cemitério do Alto de S. João, onde será feita a cerimónia de cremação, conforme vontade da atriz, disse à agência Lusa um familiar.
Glória de Matos protagonizou a peça “Quem Tem medo de Virginia Woolf?”, de Edward Albee, que lhe valeu o Prémio de Melhor Atriz, em 1972, atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.
“Quem Tem medo de Virginia Woolf?” esteve em cena no Teatro Monumental, em Lisboa, e Glória de Matos contracenou com Jacinto Ramos (1917-2004), numa encenação de João Vieira.
Uma atuação “memorável”, segundo a crítica, que lhe valeu também o Prémio Lucinda Simões, para “melhor intérprete feminino de teatro declamado”, do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI).
De seu nome completo Maria da Glória Martins de Matos Mendes, a atriz iniciou a carreira em 1954, tendo feito parte do núcleo fundador da Casa da Comédia, com o ator e encenador Fernando Amado (1899-1968), entre outros, no Teatro do Ginásio, em Lisboa.
Nascida em Lisboa, a atriz fez parte do Grupo Fernando Pessoa, com o qual realizou, em 1962, uma digressão pelo Brasil.
Uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian permitiu-lhe diplomar-se em Teatro na Old Vic School, no Reino Unido, onde esteve até 1965, e onde foi colega, entre outros, do ator Anthony Hopkins, que a desafiou a fazer carreira nos cenários britânicos.
Em 1966 colaborou com o ator Raul Solnado (1929-2009), e com a companhia de teatro de Vasco Morgado, estreando-se no cinema no ano seguinte em “Operação Dinamite”, de Pedro Martins, tendo contracenado, entre outros, com Nicolau Breyner (1940-2016), Armando Cortez (1928-2002), Helena del Rubio e Serge Farkas.
Em 1968, ingressou na Companhia Portuguesa de Comediantes e, no ano seguinte, na companhia residente do Teatro Nacional D. Maria II.
De julho de 1972 a setembro de 1983, manteve o vínculo como professora na Escola de Teatro do Conservatório Nacional, em Lisboa, e de outubro de 1983 a janeiro de 2000, foi professora na Escola Superior de Teatro e Cinema, que sucedeu à do Conservatório Nacional.
Em 1971, Madalena Azeredo Perdigão, convidada para coordenar a Reforma do Ensino Artístico pelo então ministro da Educação Veiga Simão, convidou-a para fazer parte da respetiva comissão.
Após o 25 de Abril de 1974, a atriz e o marido, o apresentador de rádio e televisão Henrique Mendes (1931-2004), emigraram para o Canadá, tendo o casal regressado a Portugal em 1979, por incentivo do ator e encenador Raul Solnado.
Glória de Matos participou em vários filmes de Manoel de Oliveira (1908-2015), como “Benilde ou A Virgem Mãe” (1975), “Francisca” (1981), “Os Canibais” (1988), “Vale Abraão” (1993) “O Quinto Império” (2004), “Espelho Mágico” (2005) e “Singularidades de uma Rapariga Loura” (2009).
Em 1982 fez parte do elenco de “Vila Faia”, realização de Nuno Teixeira, a primeira telenovela portuguesa, exibida na RTP1, na qual participaram Ruy de Carvalho, Helena Isabel, Rosa Lobato de Faria (1932-2010).
A atriz regressou ao modelo televisivo com “Origens” (1983), também realizada por Nuno Teixeira, ao lado de Florbela Queirós, Curado Ribeiro (1919-1995), Tozé Martinho (1947-2020) e Mariana Rey Monteiro (1922-2010), entre outros, e com “Terra Mãe” (1998), de Rui Vilhena, com Manuela Maria, Cláudio Lins, Lúcia Moniz, Marques D’Arrede e Lídia Franco, entre outros.
Na televisão, desenvolveu ainda outras atividades, tendo apresentado, em 1974, o Festival RTP da Canção, ao lado de Artur Agostinho (1920-2011).
A sua experiência estendeu-se à comunicação social na área da formação, tendo sido orientadora no Centro de Formação da RTP durante 12 anos e docente da disciplina de Expressão Oral, no Curso de Mestrado em Comunicação Educacional e Multimédia da Universidade Aberta.
De 1990 a 1992, foi assessora da secretaria de Estado da Cultura, do Governo de Aníbal Cavaco Silva, de quem tinha sido professora de dicção, e de 1991 a 1994, foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Subiu ao palco na temporada de 2005/2006 do Teatro Nacional D. Maria II, na peça “A Mais Velha Profissão do Mundo”, de Paula Vogel, numa coprodução do Teatro Nacional e da companhia Escola de Mulheres, com encenação de Fernanda Lapa (1943-2020), contracenando com as atrizes Fernanda Montemor (1935-2015), Lia Gama, Lourdes Norberto e Maria José (1930-2020), tendo recebido a Medalha de Prata de Mérito Artístico do Ministério da Cultura.
A última atuação de Glória de Matos ocorreu em 2017, na peça “Odeio-te, Meu Amor”, de Franz Xaver Kroetz, contracenando com Luís Miguel Cintra, que admirava, numa encenação de Ricardo Pais, no Teatro Nacional D. Maria II.
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