Diretora da televisão pública cabo-verdiana acusa administração de “abuso de poder”

Praia, 03 nov 2025 (Lusa) — A diretora da estação pública Televisão de Cabo Verde (TCV) acusou hoje a administração da emissora estatal de “abuso de poder”, “perseguição” e tentativa de “silenciar” o trabalho jornalístico, após um processo disciplinar que levou à sua suspensão.

“Estamos, de forma clara, perante uma situação de maldade crua, perseguição, abuso de poder e tentativa descarada de silenciar uma profissional que fez o seu trabalho à luz da legislação que regula o setor. A diretora da TCV não cometeu nenhum erro ou delito disciplinar. Tanto que, em circunstâncias idênticas, faria tudo exatamente igual, porque a autonomia editorial não é negociável e a liberdade de imprensa é direito consagrado na Constituição”, afirmou Bernardina Ferreira, num comunicado.

Bernardina Ferreira referiu que o processo disciplinar nasceu de um quadro de contestação a “ingerências editoriais” por parte do conselho de administração da RTC, já reconhecidas pela Autoridade Reguladora da Comunicação Social (ARC).

Numa queixa estava em causa a contratação de um programa externo sem o conhecimento da direção do canal.

Houve ainda o indeferimento, por parte de um administrador, da deslocação de uma equipa televisiva a outro município.

“A assinatura do contrato aconteceu sem o conhecimento da direção da TCV e a administração apresentou o documento como facto consumado e o programa como aquisição pronta para emissão”, afirmou a diretora.

A responsável recordou que, após alertar para uma “interferência clara” na esfera de conteúdos da estação e pedir parecer à ARC, a entidade reguladora confirmou “a ingerência do conselho de administração na grelha de conteúdos”, aplicando posteriormente uma coima de 3.000 euros à RTC.

A administração da RTC afirmou no domingo que o processo disciplinar “não tem nenhuma relação com o trabalho jornalístico, nem com a liberdade editorial”, referindo tratar-se apenas de “questões internas de gestão”.

A Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), por seu lado, classificou o caso como “um ato de retaliação” e o Conselho de Redação da televisão pública exigiu a anulação da suspensão, por considerar que não tem base legal.

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