COP30: Catarina Martins promete lembrar compromisso de redução dos combustíveis fósseis

Belém, Brasil, 15 nov 2025 (Lusa) — A eurodeputada Catarina Martins prometeu hoje recordar os líderes mundiais presentes na COP30, no Brasil, dos compromissos mundiais sobre a redução de combustíveis fósseis, pelo que vê a possibilidade de prospeções de petróleo na Amazónia como uma contradição.

“Neste momento há um debate muito importante no Brasil, por causa de novas licenças de prospeção de petróleo na Amazónia e na foz do Amazonas. Do nosso ponto de vista, não devia ser feito. Aliás, quando foi a COP no Dubai [em 2023], foi pela primeira vez dito que haveria uma redução efetiva do uso de combustíveis fósseis (…). Há aqui uma contradição difícil de explicar”, disse Catarina Martins.

Em declarações à Lusa por telefone, a eurodeputada, que participará hoje no debate “Desafios da Transição, a disputa por uma Amazónia livre de combustíveis fósseis”, em Belém, no Brasil, onde decorre a 30.ª Conferência do Clima da ONU, defendeu a necessidade de “cooperação e articulação internacionais para que não sejam só uns países a ficar com o custo da redução” e destacou a relevância dos povos indígenas nesta discussão.

“No Parlamento Europeu fizemos duas propostas fundamentais, uma foi aceite e outra não. [A que foi aceite é sobre] os povos indígenas e sobre a necessidade de os ouvir, de os informar, de os respeitar nas decisões que são tomadas. A segunda, que não foi aprovada, tinha a ver com uma cooperação com o Brasil para que não houvesse prospeção de petróleo na Amazónia”, recordou.

Catarina Martins, que representa a esquerda europeia na COP30, prometeu defender que “este é um tema do Brasil, mas também uma luta internacional” porque, acrescentou, “é preciso que os mecanismos de cooperação e de financiamento sejam postos em marcha para que os países possam abdicar dos proveitos que poderiam ter com a prospeção de petróleo, sabendo que há uma articulação internacional que os apoia na preservação da floresta”.

“A Amazónia é o pulmão do planeta Terra e, portanto, esta tarde pretendo lembrar isso mesmo. Por um lado, o compromisso internacional a que todos os países se obrigaram, incluindo o Brasil, de reduzir o recurso a combustíveis fósseis e, portanto, a prospeção de petróleo na Amazónia contraria essa decisão, e por outro lado também a obrigação internacional, e nomeadamente da União Europeia, de apoiar os países produtores de petróleo sobretudo em regiões como a Amazónia, que são muito sensíveis tanto do ponto de vista ambiental como do ponto de vista social”, descreveu.

Para a também candidata presidencial em Portugal — que aproveitará a visita ao Brasil para contactos com a comunidade portuguesa nesse país — “o Governo de Lula [da Silva] tem dado passos importantes”, mas permanece “uma contradição que é difícil de explicar”.

“E há uma contradição também nos Estados-membros da União Europeia (UE) e na UE, porque esse compromisso para reduzir os combustíveis fósseis também precisa de mecanismos de cooperação, de financiamento, de solidariedade internacional. A UE podia estar a fazer muito mais do que faz”, considerou.

Catarina Martins disse que a UE “continua a financiar projetos no Brasil, muitos deles ligados a atentados ambientais, embora tenham ‘verde’ no nome”, enquanto “faltam mecanismos capazes de apoiar a Amazónia e os povos da Amazónia”.

Ainda a propósito da COP30, a eurodeputada destacou a Cúpula dos Povos que organizou a “Marcha Global pela Justiça Climática”, iniciativa que terá reunido no sábado mais de 30 mil pessoas de todo o mundo, e que deu voz aos coletivos ambientalistas e de povos indígenas.

“Foi um enorme sucesso, e foi um enorme sucesso pela presença de movimentos internacionais, não só do hemisfério Sul, mas um pouco de todo o mundo, de vários países, com muita presença dos povos indígenas. Acho que é muito importante que olhemos na Europa com muita atenção para a luta extraordinária que está a ser feita por estes povos para a preservação das florestas, dos rios e como têm sido, aliás, vítimas de uma enorme violência”, disse.

Para a eurodeputada, “é mesmo preciso uma solidariedade internacional muito clara para proteger quem está literalmente a defender a vida de todos nós e está a pagar com a vida em ataques violentos esta coragem”.

 

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