
Washington, 20 dez 2025 (Lusa) – Um porta-voz do ex-Presidente norte-americano Bill Clinton afastou hoje qualquer ligação à rede de tráfico infantil liderada por Jeffrey Epstein e acusou o atual líder da Casa Branca, Donald Trump, de tentar desviar atenções sobre o escândalo.
Entre os cerca de 4.000 ficheiros divulgados na sexta-feira pelo Departamento de Justiça, prazo estabelecido por lei para a sua publicação, várias fotos mostram Jeffrey Epstein na companhia de superestrelas como Michael Jackson e Mick Jagger e do ex-Presidente Bill Clinton.
No entanto, alguns rostos foram enegrecidos, assim como grandes excertos de documentos, incluindo uma lista de 254 “massagistas” com os seus nomes ocultados, ou 119 páginas de um documento judicial de um tribunal de Nova Iorque, riscadas sem explicação.
Em reação, Angel Ureña, porta-voz de Bill Clinton criticou que a Casa Branca tenha mantido em segredo os ficheiros durante meses para a seguir as divulgar numa sexta-feira à noite, sugerindo que o seu interesse não era movido pela proteção do ex-Presidente democrata: “Trata-se de se proteger do que está para vir, ou do que tentarão esconder para sempre”.
Numa mensagem na rede X, Ureña afirmou que as autoridades norte-americanas “podem publicar todas as fotos granuladas de há mais de 20 anos que quiserem”, mas frisou que “isso não tem nada a ver com Bill Clinton”.
O porta-voz assinalou que “há dois tipos de pessoas” neste caso: o primeiro grupo não sabia de nada e cortou relações com Epstein antes de os seus crimes virem a público, e o segundo continuou a sua relação com ele depois: “Nós estamos no primeiro grupo”, declarou.
“Nenhuma tentativa de atraso por parte do segundo grupo vai mudar isto. Todos, especialmente os seguidores do MAGA, esperam respostas, não bodes expiatórios”, disse ainda, referindo-se ao movimento ideológico de apoio a Donald Trump, que era próximo de Epstein.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, acusou hoje o Departamento de Justiça de violar a lei após a divulgação de alguns ficheiros relacionados com o criminoso sexual condenado.
Schumer alegou que faltavam documentos nos arquivos e que muitos dos que foram divulgados tinham sido censurados, com rostos desfocados em fotografias e excertos de documentos escritos omitidos, incluindo o caso do grande júri, que é fundamental para identificar os responsáveis ??pelos abusos.
Alguns políticos republicanos também criticaram as ações do Departamento de Justiça, como o representante do Kentucky Thomas Massie, que liderou a campanha de aprovação do projeto de lei juntamente com o democrata Ro Khanna.
Ambos destacaram que a lei que defenderam foi especificamente criada para impedir a censura praticada pelo Departamento de Justiça.
Hoje foram divulgados mais ficheiros sobre Jeffrey Epstein, que se suicidou em 2019, incluindo materiais do grande júri sobre o seu caso e da sua cúmplice e ex-companheira, Ghislaine Maxwell.
Entre os novos documentos estão várias apresentações em PowerPoint que os procuradores federais mostraram aos membros do grande júri para indiciarem formalmente Epstein e Maxwell.
Uma apresentação, datada de 18 de junho de 2019, inclui várias notas telefónicas com mensagens manuscritas que dizem “Tenho uma rapariga para ele” ou “ela tem raparigas para o Sr. J.E.”.
Numa dessas notas, alguém observou que Epstein tinha recebido uma chamada do atual Presidente norte-americano, embora não haja mais informações sobre o motivo do telefonema.
Questionado pela imprensa na sexta-feira, Donald Trump, recusou-se a comentar o caso.
Mas a sua equipa apropriou-se imediatamente de uma foto que mostrava Bill Clinton (1993-2001), cujos laços estreitos com Epstein já eram conhecidos, no que parece ser um ‘jacuzzi’, imagem parcialmente obscurecida através de um retângulo preto.
Outrora próximo de Jeffrey Epstein, com quem circulava nos mesmos círculos, Donald Trump sempre negou qualquer conhecimento do seu comportamento criminoso e afirma que rompeu relações com ele antes de ser investigado pelas autoridades.
Embora tenha declarado durante a sua campanha presidencial de 2024 que apoiava a divulgação dos ficheiros Epstein, resistiu posteriormente a fazê-lo durante muito tempo, classificando o caso como uma farsa orquestrada pelos democratas.
No entanto, o líder republicano cedeu finalmente à pressão do Congresso e até de parte dos seus apoiantes e sancionou em novembro uma lei que exige transparência sobre este caso à sua administração.
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