Clima: Oceano Ártico começou a aquecer no início do século XX – estudo

Redação, 24 nov 2021 (Lusa) — O Oceano Ártico começou a aquecer no início do século XX, décadas mais cedo do que se pensava, segundo uma investigação publicada hoje na revista “Science Advances”, que aponta as últimas duas décadas como as mais “quentes”.

O aquecimento do Ártico deve-se a água mais quente que flui para o delicado ecossistema a partir do Oceano Atlântico, com o aumento da temperatura a ser mais notório nos últimos 20 anos, indica o estudo de um grupo internacional de investigadores liderado pela Universidade de Cambridge, Reino Unido.

Os investigadores notam que todos os oceanos do mundo estão a aquecer, devido às alterações climáticas, mas que o Oceano Ártico, o mais pequeno e menos profundo, está a aquecer mais rapidamente do que qualquer outro.

O grupo reconstruiu a história recente do aquecimento do oceano junto do Ártico, numa região chamada Estreito de Fram, entre a Gronelândia e o arquipélago norueguês das ilhas Svalbard, utilizando as assinaturas químicas encontradas em micro-organismos marinhos.

E concluiu que o Oceano Ártico começou a aquecer rapidamente no início do século XX, à medida que águas mais quentes e salgadas vinham do Oceano Atlântico, um fenómeno chamado atlantificação. Uma mudança que começou antes da documentada pelas medições instrumentais modernas e que já provocou desde 1900 um aumento da temperatura de 2ºC (graus celsius).

Os resultados do estudo indicam também que há uma ligação entre o Ártico e o Atlântico Norte muito mais forte do que se pensava, que é capaz de moldar a variabilidade climática no Ártico, podendo ter implicações no recuo do gelo marinho e na subida global do nível do mar.

“A taxa de aquecimento no Ártico é mais do dobro da média global”, diz um dos autores da investigação, Francesco Muschitiello, do Departamento de Geografia de Cambridge.

“Com base nas medições por satélite sabemos que o Oceano Ártico tem vindo a aquecer constantemente, em particular nos últimos 20 anos, mas queríamos colocar o aquecimento recente num contexto mais longo”, acrescenta.

À medida que o Oceano Ártico aquece provoca o derretimento do gelo na região polar, o que afeta o nível global do mar e expõe mais da superfície do oceano ao sol, libertando calor e aumentando a temperatura do ar. Esse aumento das temperaturas provoca também o derretimento do “permafrost” (solo congelado, muitas vezes constituído por turfa), que armazena enormes quantidades de metano, um gás com efeito de estufa muito mais potente do que o mais ‘mediático’ dióxido de carbono.

Os investigadores reconstruíram as alterações das propriedades da água do Ártico ao longo dos últimos 800 anos. “Quando olhámos para todo o período de 800 anos, os nossos registos de temperatura e salinidade pareceram muito constantes. Mas, de repente, no início do século XX, obtém-se esta mudança marcada na temperatura e na salinidade”, disse outro dos autores do estudo, Teci Tommaso, do Instituto de Ciências Polares do Conselho Nacional de Investigação de Bolonha, Itália.

O investigador considerou “intrigante” a rápida atlantificação do estreito de Fram, a “porta” do Ártico, e alertou que essa atlantificação pode aumentar devido às alterações climáticas.

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