
Pequim, 22 nov 2025 (Lusa) — O Governo chinês levou a disputa diplomática com o Japão à ONU, acusando Tóquio de “lançar uma ameaça de uso da força” contra Pequim e advertindo que se defenderá de qualquer “ato de agressão” no estreito de Taiwan.
Numa carta enviada sexta-feira ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o embaixador da China junto da organização, Fu Cong, afirmou que a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, “fez comentários provocadores sobre Taiwan de forma flagrante”.
China e Japão estão mergulhados numa escalada de tensão diplomática depois de Takaichi, que ocupa o cargo há um mês, ter declarado no Parlamento nipónico que um ataque chinês contra Taiwan poderia justificar a intervenção das Forças de Autodefesa japonesas.
Segundo Fu, estas palavras são “gravemente erradas e extremamente perigosas, com uma natureza e impacto profundamente maliciosos”.
“Apesar das repetidas diligências e protestos da China, a parte japonesa recusa-se a arrepender-se ou a retratar-se das suas afirmações erróneas”, sublinhou o diplomata, recordando que esta é “a primeira vez que o Japão lança uma ameaça de uso da força contra a China”, algo que desafia “abertamente” os “interesses fundamentais chineses”.
O embaixador advertiu que, se o Japão se atrever a intervir militarmente no estreito de Taiwan, isso será considerado por Pequim um “ato de agressão”.
“A China exercerá com determinação o seu direito à autodefesa ao abrigo da Carta da ONU e do direito internacional e defenderá firmemente a sua soberania e integridade territorial”, afirmou Fu.
“Como país derrotado na Segunda Guerra Mundial, o Japão deve refletir profundamente sobre os seus crimes históricos, cumprir estritamente o seu compromisso político relativo à questão de Taiwan, cessar imediatamente provocações e ultrapassagens de linhas vermelhas, e retratar-se das suas declarações erróneas”, concluiu o diplomata chinês.
Após as afirmações de Takaichi, a China aconselhou os seus cidadãos a evitarem viajar para o Japão, o que levou à suspensão de centenas de milhares de voos, e voltou também a proibir a importação de marisco japonês, entre outras medidas.
A primeira-ministra nipónica, por seu lado, recusou na sexta-feira retirar as suas declarações sobre Taiwan, considerando que representam a “posição coerente” do Governo japonês, e reiterou o desejo de manter relações benéficas com a China, numa nova chamada ao diálogo.
A China considera a ilha de Taiwan, governada autonomamente desde 1949, como uma “parte inalienável” do seu território e não exclui o uso da força para assumir o seu controlo.
O Japão, que rompeu relações diplomáticas com Taipé em 1972 para as estabelecer com Pequim, mantém estreitos contactos não oficiais com a ilha — que parlamentares próximos visitam com frequência –, bem como um compromisso de segurança com os Estados Unidos, que confere peso estratégico à sua posição no Indo-Pacífico.
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