Autoridades francesas fazem buscas ligadas ao caso de corrupção que afeta a Altice

Paris, 18 nov 2025 (Lusa) – As autoridades francesas realizaram uma série de buscas e apreensões no âmbito do caso de corrupção que alegadamente afeta a Altice, num processo que começou em Portugal.

Fontes próximas da empresa, citadas hoje pela agência France-Presse (AFP), frisou que nem o grupo, nem as suas subsidiárias, foram alvo de buscas.

A Altice é a empresa-mãe da SFR, a segunda maior operadora de telemóveis de França.

Mais de 70 investigadores realizaram buscas simultâneas em 15 residências e 14 empresas localizadas na região da Île-de-France, Córsega, departamento de Var e na região dos Vosges.

“Esta ação coordenada teve como objetivo recolher provas úteis para a investigação em curso”, enfatizou o procurador financeiro Jean-François Bohnert, confirmando informações publicadas pelo jornal Le Monde.

“Foram apreendidos mais de 14 milhões de euros de contas bancárias, juntamente com veículos e bens de luxo”, destacou o responsável da Procuradoria Nacional Financeira (PNF), a instituição judicial francesa responsável pelo combate à fraude fiscal e aos principais crimes financeiros.

O PNF abriu esta investigação em setembro de 2023 “sobre um vasto esquema de corrupção envolvendo crimes classificados como corrupção privada, fraude organizada e branqueamento de capitais organizado, em prejuízo do grupo Altice”.

Em causa está uma possível rede de empresas de fachada que opera entre a Altice e determinados fornecedores, um mecanismo para sobrefaturação e branqueamento de capitais que beneficia os principais instigadores do esquema.

A investigação francesa foi iniciada dois meses depois da detenção, pelas autoridades portuguesas, de Armando Pereira, então braço direito do multimilionário francês Patrick Drahi, o maior acionista da Altice France.

A Altice afirma estar a cooperar com as autoridades francesas e portuguesas.

Segundo fonte próxima do caso, a Altice e a SFR apresentaram uma queixa na primavera de 2024, visando Armando Pereira, antigo braço direito de Drahi, e aqueles que suspeitam ser seus cúmplices, bem como subcontratados.

Estes indivíduos “são os que estão a ser alvo das buscas atualmente”, frisou ainda fonte ligada ao processo à AFP.

Armando Pereira, de 73 anos, que nega as acusações, foi detido em julho de 2023 pela justiça portuguesa.

Após o escândalo, Drahi, de 62 anos, afirmou que se sentiu “traído”.

Está em curso um processo civil entre as duas partes na Suíça, iniciado em julho por Armando Pereira contra Patrick Drahi, a quem reclama pelo menos 1,4 mil milhões de euros.

Em Portugal, no processo está em causa uma “viciação decisória do grupo Altice em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência” que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva e para crimes de fraude fiscal e branqueamento.

Os investigadores suspeitam que, a nível fiscal, o Estado terá sido defraudado numa verba superior a 100 milhões de euros.

A investigação indica também a existência de indícios de “aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira”, através da domiciliação fiscal fictícia de pessoas e empresas. Entende ainda o MP que terão também sido usadas sociedades ‘offshore’, indiciando os crimes de branqueamento e falsificação.

 

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