
Foz do Iguaçu, Brasil, 20 dez 2025 (Lusa) — O presidente do Brasil, Lula da Silva, alertou hoje, durante a intervenção na abertura da cimeira do Mercosul, em Foz do Iguaçu, que “uma intervenção armada dos Estados Unidos na Venezuela seria uma catástrofe humanitária”.
“Quatro décadas após a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano é novamente assombrado pela presença militar de uma potência” estrangeira, afirmou o chefe de Estado brasileiro, acrescentando, citado pela agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP): “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério sul e um precedente perigoso para o mundo”.
As declarações de Lula da Silva surgem no dia a seguir ao presidente norte-americano, Donald Trump, não ter excluído a possibilidade de uma guerra contra a Venezuela: “Não, não excluo essa possibilidade”, afirmou em entrevista à NBC, gravada na quinta-feira e transmitida na sexta-feira.
Na quinta-feira, Lula tinha-se mostrado disposto a servir de mediador em prol de uma “solução pacífica” entre os Estados Unidos e a Venezuela para “evitar um conflito armado na América Latina”.
Washington destacou um importante contingente militar para as Caraíbas desde o verão e realizou uma série de ataques contra embarcações de supostos traficantes de droga nas Caraíbas e no Pacífico.
Pelo menos 104 pessoas foram mortas nesses ataques desde o início das operações, sem que o governo americano tenha fornecido qualquer prova de que os navios visados estivessem realmente envolvidos em qualquer tipo de tráfico.
Trump anunciou ainda, no início da semana, um “bloqueio total” contra petroleiros sob sanções que se dirigissem para a Venezuela ou partissem de lá, ao mesmo tempo que tem deixado no ar, há semanas, a possibilidade de uma intervenção terrestre.
Os Estados Unidos acusam o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar uma rede de tráfico de drogas, algo negado pelo chefe de Estado venezuelano.
A cimeira do Mercosul decorre hoje em Foz do Iguaçu e assinala a passagem de testemunho do Brasil para o Paraguai, frustrada que está a possibilidade de assinatura do acordo comercial com a União Europeia.
Embora o Conselho Europeu tenha anunciado na quinta-feira que não tinha o apoio necessário para aprovar a assinatura do acordo já hoje, tendo proposto adiá-la para 12 de janeiro no Paraguai, os chefes de Estado dos quatro países do Mercosul confirmaram a sua presença na cimeira.
Além do presidente anfitrião, os líderes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Uruguai, Yamandú Orsi, marcaram presença em Foz do Iguaçu.
Apesar do aviso de Lula da Silva de que o Mercosul abandonaria o acordo se não fosse assinado hoje, na reunião prévia da cimeira entre os ministros dos negócios estrangeiros da organização, realizada na sexta-feira, foi expressada desilusão com o adiamento, mas também a mensagem de que os países sul-americanos vão esperar que a UE supere as suas divergências.
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