
Maputo, 24 nov 2025 (Lusa) — A ‘startup’ moçambicana Agriview recolhe cascas de milho em vendedores de maçaroca em Maputo para as transformar em loiça biodegradável que substitui plástico, enquanto procura financiamento para avançar com a produção semi-industrial e criar emprego para a juventude.
“Neste momento estamos à procura dos ‘grants’ [financiamento] para podermos avançar já para a fase semi-industrial (…). [Queremos] crescer, empregar, agregarmos valor e criarmos renda para mais famílias e estabilidade para o nosso país”, diz à Lusa Rui Bauhofer, cofundador da Agriview.
Enquanto Rui e Joaquim Rebelo, outro dos cofundadores do projeto, não conseguem avançar para a produção semi-industrial e “dar emprego” à juventude, os dois também jovens moçambicanos têm estado a gerar “renda extra” às senhoras que vendem maçaroca nas bermas da estrada e passeios, junto de quem recolhem a matéria-prima.
“Nós recolhemos as cascas de milho junto dos pequenos agricultores e de vendedoras de rua que vendem maçaroca grelhada e fervida e pagamos a elas um valor simbólico”, diz Rui Bauhofer, referindo que teve de mostrar os protótipos às senhoras para ter essas cascas.
Das mãos das vendedoras e produtores, as cascas são tratadas, transformadas em polpa, colocadas em moldes, prensadas e, finalmente, postas a secar, dando vida a pratos e favos de ovos de “utilização única”, que vão substituir o plástico descartável, visando “melhorar o meio ambiente e cuidar do planeta”.
Alguns pratos e favos são feitos com sementes embutidas de chia, couve, tomate e outras culturas para plantar, regar e germinar “novas plantas no ecossistema”, um processo de biodegradação que ocorre após três semanas de utilização da loiça.
A Agriview vai mais longe e pesquisa, agora, sementes de mangais e de outras plantas que previnem a erosão na praia para embutir na loiça descartável, visando também “restaurar a biodiversidade”.
“A ideia é transformar aqui Moçambique num exemplo de resiliência para as alterações climáticas. É algo que o Governo tem estado a defender muito e para nós é uma honra fazer parte desta agenda não só local, mas também global”, diz Bauhofer.
Inspirados por uma reportagem sobre produção de loiça descartável com cascas e coroa de abacaxi em 2013, Rui Bauhofer e Joaquim Rebelo, de 30 anos, só começaram a desenvolver o projeto em 2021 e, após uma “data de testes”, finalmente tiveram em abril passado os primeiros protótipos “com melhor consistência e uniformidade”.
As cascas de milho foram a “melhor aposta” para a Agriview, por serem uma das “culturas mais cultivadas, não sazonal, que é produzida ao longo de todo o ano, em grandes quantidades”.
“A casca é hidrofóbica, para nós é uma mais-valia, repele a água por si só, não deixa que a água penetre e é precisamente por isso que decidimos escolher a casca de milho”, refere Rui, enquanto exibe um protótipo de prato biodegradável de sopa e para servir salgados.
Nas mãos, Rui tem também quatro protótipos de favos de ovo, desde a primeira experiência e até à última, que diferem na cor e consistência, elementos que denotam o processo criativo desenvolvido pela ‘startup’.
Os pratos e favos, já um pouco cansados de idas e vindas de exibição pelo mundo atrás de financiamento, venceram, recentemente, o Prémio África de Inovação em Engenharia, atribuído pela Royal Academy of Engineering de Londres.
O Africa Prize for Engineering Innovation, lançado em 2014 pela Royal Academy of Engineering de Londes, é considerado o maior prémio dedicado à engenharia em África, reforçando o papel da inovação na melhoria da qualidade de vida e no desenvolvimento económico da África subsaariana.
A Agriview arrecadou também o prémio “One to Watch” do Africa Prize, a maior distinção do continente dedicada à engenharia, reconhecendo soluções inovadoras e escaláveis para desafios ambientais e sociais, após uma disputa que envolveu 30 países africanos.
Para o futuro, a ‘startup’ moçambicana Agriview quer criar emprego para os jovens e, além de pratos, produzir também copos e talheres biodegradáveis para comercializar para as senhoras que vendem comida nas ruas de Maputo e restaurantes, substituindo a loiça plástica descartável utilizada atualmente.
“A ideia é que eles, [os pratos], sejam 100% biodegradáveis, isto é, eles desapareceram no meio ambiente, retornem ao meio ambiente de forma que não seja prejudicial ao mesmo”, conclui Rui Bauhofer.
LN (EYMZ) // VM
Lusa/Fim
