
Praia, 22 nov 2025 (Lusa) — O pianista Mário Laginha está a realizar concertos em Cabo Verde ao lado de Tcheka, cantor e músico das ilhas, mas reservou tempo para algo do que mais gosta, um encontro com jovens músicos.
“Para mim, são coroas de glória alguém dizer que a partir daquele ‘workshop’ percebeu como devia estudar e que foi muito útil. Fico felicíssimo quando isso acontece”, conta à Lusa no auditório do Centro Cultural Português da cidade da Praia, ao lado de alunos de escolas de música, cantores e instrumentistas.
“Em hora e meia não se ensina muita coisa, mas acho que se podem dar pistas” para “motivar” e essa é outra face do pianista português, abrir portas para a sua experiência: “o que estudei, o que me motivou, entusiasmou, o que me frustrou”.
A plateia é diversa e vai da mais nova Joana Lopes, nove anos, que já mostra desembaraço ao piano, até Bertânia Almeida, uma das vozes revelação cabo-verdianas dos últimos anos.
“Vim conhecer o professor novo. Toco piano porque gosto e me sinto feliz”, diz Joana, enquanto Bertânia levanta questões sobre a abertura do repertório tradicional a novas influências: “às vezes, nessa caminhada [musical} vamos encontrando alguns empecilhos, resistências e há vontade de dar outros passos”.
No caso, “é sempre bom ouvir alguém que já percorreu outro caminho”, como Mário Laginha, com as suas diversas colaborações e estilos.
Bertânia acha importante “que se preserve o tradicional”, mas também que haja espaço para “os jovens experimentarem outras coisas” e uma “masterclass” com Mário Laginha parece-lhe ser local de inspiração.
“Não conheço os participantes, tento adaptar o que vou fazer, não é uma coisa hermética. Vou tentar ser o mais útil possível”, promete o pianista, um apaixonado pela “diversidade” em que todos têm “algo a aprender, uns com os outros”.
Este contexto de partilha ganha ainda mais força em Cabo Verde, diz, porque “é um país que tem uma grande profusão de talentos musicais. Acho que é uma sociedade muito musical, com muita gente a tocar estilos diferentes, instrumentos diferentes”, como um talento que parecer fazer parte do ADN.
E foi neste ambiente, há dez anos, que lhe apresentaram Tcheka (Manuel Lopes Andrade).
“Fiquei deslumbrado com o que eu ouvi”, recorda Laginha.
“Nasceu a possibilidade de tocarmos juntos e nunca mais parámos”, juntando ao piano, a guitarra e voz de Tcheka, um cantor e compositor que foge ao vulgar.
O duo estreou-se agora no arquipélago numa iniciativa do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, no âmbito da programação do Centro Cultural Português, com concertos na Praia (última quinta-feira) e Mindelo (hoje, onde conta com o apoio do município).
Além desta organização, outro espetáculo está a ser preparado para sexta-feira, 28 de novembro, na Cidade Velha.
Entre concertos, uma “masterclass” e encontros imprevistos, Mário Laginha diz ser “improvável” não ouvir “qualquer coisa ou não conhecer alguém que não seja estimulante do ponto de vista musical”.
“A minha atividade musical está sempre ligada à ideia de escrever mais música, compor, conhecer, tocar com pessoas diferentes, experimentar, arriscar (…). Tudo me vai influenciar naquilo que vou fazer”, conclui, às portas do lançamento de um disco a solo, “no princípio do próximo ano” — o segundo, numa carreira que tem privilegiado os espetáculos ao vivo.
*** por Luís Fonseca (texto e vídeo) e Elton Monteiro (foto) ***
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