PR de Moçambique quis estar presente no “momento especial” da posse na Tanzânia

Maputo, 03 nov 2025 (Lusa) – O chefe de Estado moçambicano, Daniel Chapo, afirmou hoje que a relação com a Tanzânia “é histórica” e que não podia faltar ao “momento especial” da tomada de posse de Samia Suluhu Hassan como Presidente do país vizinho.

“A relação entre o povo moçambicano e o povo da Tanzânia é histórica. Como sabem, a Frente de Libertação de Moçambique [Frelimo, no poder desde 1975], o movimento libertador, na altura, hoje partido, foi formado na Tanzânia, a 25 de junho de 1962”, recordou o chefe de Estado moçambicano, que é também líder da Frelimo, em declarações aos jornalistas em Dodoma, na cerimónia de tomada de posse.

Samia Suluhu Hassan foi hoje empossada como Presidente da Tanzânia, apesar da violência eleitoral que causou centenas de mortos, segundo a oposição, e de uma eleição criticada pela grande falta de transparência.

“Muito antes sempre tivemos o apoio da Tanzânia e nós não podíamos faltar num momento especial que é a tomada de posse da Presidente eleita e nós achamos que era muito importante estarmos aqui em nome do povo moçambicano, mas também para cada vez mais solidificar as relações de amizade e cooperação que existem entre os dois povos”, acrescentou.

Hassan tomou posse depois da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC, na sigla em inglês) a ter declarado, no sábado, vencedora das eleições com 97,66% dos votos, numa votação em que foram excluídos os dois principais rivais.

“Eu, Samia Suluhu Hassan, juro que cumprirei as minhas funções de Presidente da República (…) com diligência e um coração sincero”, afirmou a chefe de Estado, promovida à liderança da Tanzânia após a morte do antecessor, John Magufuli, em 2021. Inicialmente saudada por ter flexibilizado as restrições impostas por Magufuli, foi posteriormente acusada de reprimir os opositores, nomeadamente antes da eleição.

A cerimónia de investidura, que não esteve aberta ao público, ao contrário das anteriores, contou com a presença de dezenas de membros do Partido da Revolução (CCM, na sigla em suaíli), representantes do corpo diplomático e vários presidentes africanos, entre eles, Daniel Chapo, Presidente moçambicano.

A votação foi marcada por um elevado nível de violência. A internet permanece cortada desde quarta-feira, o que atrasa consideravelmente a divulgação de informações.

Um porta-voz do principal partido da oposição, Chadema, estimou na sexta-feira que pelo menos 700 manifestantes hostis ao regime foram mortos na Tanzânia em três dias. No sábado, este porta-voz, John Kitoka, referiu pelo menos 800 mortos.

O país da África oriental, com 68 milhões de habitantes, mergulhou na violência na quarta-feira, dia das eleições presidenciais e legislativas, que decorreram sem oposição, uma vez que os dois principais adversários da chefe de Estado foram detidos ou desqualificados.

Na sexta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, manifestou-se “muito preocupado” e exigiu uma “investigação minuciosa e imparcial sobre as acusações de uso excessivo da força”, apelando a todas as partes para que ajam com moderação e “impeçam qualquer nova escalada”, de acordo com um comunicado.

No sábado, a União Africana (UA) felicitou a Presidente cessante da Tanzânia, Samia Suluhu, pela reeleição, mas lamentou “profundamente as vidas perdidas” durante os protestos dos últimos dias.

Já no domingo, a União Europeia (UE) considerou confiáveis os relatos que confirmam um elevado número de mortes resultantes da repressão das forças de segurança da Tanzânia contra manifestantes da oposição, que classificam as eleições de “farsa”.

No domingo, o Papa Leão XIV afirmou rezar “pela Tanzânia” e mencionou as “numerosas vítimas” dos confrontos ocorridos após as eleições.

Por outro lado, as autoridades da Tanzânia negam qualquer violência.

“Não houve qualquer uso excessivo da força”, afirmou o ministro tanzaniano dos Negócios Estrangeiros Mahmoud Thabit Kombo, que referiu não ter visto “esses 700 mortos”.

PVJ (MAV) // MLL

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