
Brasília, 24 out 2025 (Lusa) — A diretora-executiva da cimeira climática das Nações Unidas (COP30) rejeitou hoje que o Brasil tenha de “se defender” na conferência por ter autorizado a prospeção de petróleo ao largo da Amazónia.
“Não creio que o Brasil precise de se defender. É uma decisão soberana”, disse a brasileira Ana Toni durante uma conferência de imprensa com correspondentes estrangeiros, em referência à autorização concedida pelo Governo do Brasil para pesquisar petróleo numa área marítima situada a 500 quilómetros da foz do rio Amazonas.
A responsável afirmou que todos os países têm as suas “contradições” e defendeu que estas sejam debatidas de forma “transparente” durante a COP30, que se realiza em novembro na cidade amazónica de Belém.
Ao mesmo tempo, rejeitou que a licença concedida esta semana à petrolífera estatal Petrobras, amplamente criticada por organizações ambientalistas, afete a “credibilidade” do Brasil como moderador das discussões.
Nesse sentido, recordou que o Governo brasileiro apresentou uma meta ambiciosa para reduzir as emissões de gases poluentes entre 59% e 67% até 2035.
Sobre a negociação de compromissos durante a COP30 para pôr fim aos combustíveis fósseis, Ana Toni afirmou que não cabe à presidência brasileira propor um calendário concreto para que isso aconteça, mas salientou que países como a Colômbia já o fizeram.
Na COP28, realizada no Dubai em 2023, mencionou-se pela primeira vez a necessidade de “afastar-se” dos combustíveis fósseis, principais responsáveis pelas alterações climáticas, mas a referência desapareceu na cimeira seguinte.
O Governo brasileiro pretende apresentar-se em Belém como um líder da agenda climática, graças ao combate à desflorestação na Amazónia, mas várias organizações não-governamentais têm criticado a sua aposta contínua na extração de petróleo numa zona tão sensível como a costa amazónica.
Várias organizações não-governamentais apresentaram na quinta-feira uma ação na Justiça brasileira para anular a licença de pesquisa de petróleo à Petrobras numa área próxima à foz do rio Amazonas.
As oito organizações que interpuseram a ação — entre as quais se encontram a Greenpeace, a WWF e a principal organização indígena do Brasil — pediram a um tribunal federal a suspensão cautelar da perfuração, que a Petrobras iniciou logo após obter autorização para explorar as reservas de crude.
Na mesma ocasião, Ana Toni afirmou que 132 países já têm alojamento garantido na cidade de Belém, dando por ultrapassados os problemas relacionados com a falta de vagas e os preços elevados.
Disse ainda que 163 delegações já estão credenciadas para o evento, mais de dois terços dos Estados parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês).
Vários países em desenvolvimento, sobretudo africanos, pediram há alguns meses ao Governo brasileiro que transferisse o evento para outra cidade, devido aos preços exorbitantes registados em Belém, localizada no coração da Amazónia e com uma infraestrutura insuficiente.
No entanto, o país anfitrião rejeitou a mudança de sede e reforçou os apoios às delegações, de modo a facilitar o acesso a camas em dois navios de cruzeiro contratados especialmente para acolher os participantes.
Quanto à presença dos Estados Unidos na COP30, Ana Toni disse que a organização ainda não recebeu “sinais” sobre a sua participação e apontou que o país norte-americano não esteve presente no evento preparatório que teve lugar na semana passada, em Brasília.
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