Aliada do líder destituído dos sérvios bósnios eleita como presidente interina

Sarajevo, 19 out 2025 (Lusa) – O parlamento da República Sérvia — uma das duas entidades administrativas semiautónomas em que a Bósnia-Herzegovina está dividida — elegeu Ana Trisic-Babic, conselheira do líder destituído, Milorad Dodik, como presidente interina.

A nomeação foi aprovada no sábado, com 48 votos a favor e quatro contra, com a maioria dos deputados da oposição a abandonarem o plenário no momento da votação, em protesto devido à proximidade de Trisic-Babic com Dodik.

Em agosto, um tribunal terminou o mandato de três anos de Dodik como líder sérvio-bósnio e condenou-o a um ano de prisão — convertida em multa — e a seis meses de inabilitação política.

A justiça da Bósnia-Herzegovina considerou que Dodik desobedeceu às decisões do Alto Representante europeu, Christian Schmidt, o supervisor dos acordos de paz que puseram fim à guerra civil no país.

Questionado sobre a decisão, Dodik celebrou a eleição de um dos “colaboradores mais próximos”, em declarações divulgadas pelo canal de televisão público RTRS da região semiautónoma.

Trisic-Babic “ajudou-me e esteve comigo em todos os momentos importantes”, acrescentou o líder sérvio-bósnio.

O parlamento justificou a escolha de Trisic-Babic com as “ações inconstitucionais e ilegais” do poder judicial e das autoridades eleitorais da Bósnia-Herzegovina e garantiu que agiu para “proteger a Constituição da República Sérvia”.

“O que é que a oposição diz agora sobre isto? Queriam manter Milorad Dodik enjaulado, mas não conseguiram. Vou continuar aqui para fazer o meu trabalho”, afirmou o líder sérvio-bósnio.

Dodik pretende realizar um referendo, a 25 de outubro, para que os cidadãos da região possam confirmá-lo como presidente, enquanto as autoridades eleitorais da Bósnia-Herzegovina agendaram eleições antecipadas na região para 23 de novembro.

Também no sábado, o parlamento nacional da Bósnia-Herzegovina revogou, através de um procedimento de emergência, várias leis aprovadas pelo parlamento da República Sérvia em reação às decisões judiciais contra Dodik.

Entre estas, encontravam-se uma lei que proibia a implementação de decisão do Tribunal Constitucional, uma lei eleitoral separada para a República Sérvia e outras leis que visavam a possível independência das instituições sérvias-bósnias.

As autoridades bósnias tinham alertado para a ilegalidade destas decisões, que procuravam pôr fim à jurisdição das instituições bósnias sobre a República Sérvia, contrariando os Acordos de Dayton, que em 1995 puseram fim à guerra na Bósnia.

Na sexta-feira, os Estados Unidos suspenderam sanções que tinham sido aplicadas a quatro dirigentes da República Sérvia, incluindo o chefe de gabinete de Dodik, Danijel Dragicevic, e a diretora da RTRS, Dijana Milankovic.

As sanções foram justificadas pela participação na organização do Dia da República Sérvia, um feriado proibido pelas autoridades bósnias.

O Tribunal Constitucional da Bósnia-Herzegovina declarou inconstitucional esta marcha anual, que comemora a fundação da entidade sérvia-bósnia, em 1992, liderada por Radovan Karadzic, mais tarde condenado por crimes de guerra.

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