
Lisboa, 16 out 2025 (Lusa) — O filme “With Hasan in Gaza”, do realizador palestiniano Kamal Aljafari, uma reflexão sobre a atualidade na Faixa de Gaza a partir de imagens feitas há mais de duas décadas, abre hoje o festival de cinema DocLisboa.
O filme é apresentado pelo festival como “uma reflexão cinematográfica sobre a memória, a perda e a passagem do tempo, registando uma Gaza antiga e vidas que talvez nunca mais se encontrem”.
Em “With Hasan in Gaza”, Kamal Aljafari recuperou imagens de vídeo feitas em 2001 com um guia, Hasan, numa viagem ao longo da Faixa de Gaza à procura de Abdel Rahim, um homem que o realizador conheceu na adolescência, em 1989, quando esteve numa prisão israelita.
Kamal Aljafari esqueceu-se dessas filmagens e só deu com as cassetes mais de duas décadas depois, montando este filme, já exibido em festivais em Locarno e Toronto, que é um fresco sobre Gaza do passado e do presente.
A 23.ª edição do Doclisboa reparte-se, até ao dia 26, pela Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, com 211 filmes, incluindo 31 obras portuguesas.
“Estes filmes não fogem do conflito ou da memória; antes, acolhem-nos, encontrando no cinema uma forma de percorrer história, cultura e ideias e convidando-nos — num gesto de criatividade e resistência — a continuar a habitar este mundo”, afirma a direção do DocLisboa no texto explicativo.
A competição portuguesa conta com uma dúzia de curtas e longas-metragens, entre as quais “A baía dos tigres”, de Carlos Conceição, “Andar com fé”, de Duarte Coimbra, ambos em estreia mundial, e “Fuck the Polis”, de Rita Azevedo Gomes, que venceu em julho o grande prémio do festival de Marselha (França).
Da programação, o festival destaca “um momento incontornável” com a exibição de “As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974)”, “filme documento de Luiz Gobern Lopes sobre os movimentos anti-fascistas durante o Estado Novo”.
A programação do DocLisboa também vai incluir a estreia da versão integral — com mais de cinco horas – de “O Riso e a Faca”, filme de Pedro Pinho premiado em Cannes (prémio de Melhor Atriz para Cleo Diára).
Na secção “Heart Beat” será apresentado “Memórias do Teatro da Cornucópia”, filme de Solveig Nordlund construído com recurso a imagens de arquivo de vários espectáculos da companhia fundada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, desde a sua origem, em 1973, até ao seu encerramento, em 2016.
Nesta mesma secção será prestada homenagem ao encenador norte-americano Robert Wilson, além de filmes que convocam músicos como Jeff Buckley, Madonna, os Duran Duran e Andy Kaufman.
Em junho, o Doclisboa já anunciara uma retrospetiva dedicada ao realizador norte-americano William Greaves, numa parceria com a Cinemateca Portuguesa.
O realizador franco-norte-americano Eugène Green estará em Lisboa para apresentar, a fechar o Doclisboa, o filme “A Árvore do Conhecimento”, no qual efabula sobre um adolescente, um ogre e um pacto obscuro, “numa crítica nem sempre velada ao modo como a cidade se rendeu ao turismo”, descreve o festival.
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