
Maputo, 22 set 2025 (Lusa) – Os lucros da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) caíram 15% no último ano fiscal, para 46,7 milhões de dólares (39,4 milhões de euros), com a petrolífera estatal a alertar para o “declínio acentuado” em reservatórios de gás.
“Um dos grandes desafios que temos será o de sermos capazes de responder à situação do declínio acentuado da produção nos nossos reservatórios de Pande e Temane nos próximos anos, por forma a manter os níveis de desempenho atual”, lê-se na mensagem do conselho de administração, liderado por Arsénio Mabote, que consta do relatório e contas de 2024/2025, encerrado em junho, a que a Lusa teve hoje acesso.
“Também precisamos continuar a identificar novas oportunidades que agreguem valor ao nosso negócio contando para tal com a colaboração dos nossos acionistas, com os quais temos vindo a bordar as estratégias mais adequadas da nossa continuidade no negócio a longo termo”, acrescenta-se na mensagem.
Os lucros da CMH já tinham recuado 15,5% no ano fiscal terminado em junho de 2024, para 54,7 milhões de dólares (46,1 milhões de euros), segundo dados anteriores da petrolífera estatal, somando agora nova queda, num período (2024/2025) marcado igualmente pelo recuo de 9% na venda de gás natural pela empresa, face ao anterior.
A administração justifica esta queda no desempenho financeiro com “a flutuação dos preços de petróleo no mercado internacional, assim como aos problemas operacionais em unidades chave da central de processamento de Temane”, província de Inhambane, sul do país.
Estes fatores limitaram “a capacidade de produção do gás e do seu derivado, não obstante terem sido registadas manutenções de rotina”, lê-se no documento.
Acrescenta-se que para “assegurar o cumprimento das suas obrigações contratuais”, a CMH deu continuidade a implementação de projetos “que visam a manutenção e otimização da capacidade produtiva através da maximização da recuperação do gás” em alguns reservatórios e em novos furos.
“O ano transato foi bastante desafiador, visto que as operações de produção continuaram condicionadas a vários fatores endógenos exógenos, num ambiente influenciado pela atual conjuntura geopolítico internacional, que afetou a demanda de gás natural, condensados e respetivos preços”, reconhece ainda a administração no relatório, garantindo, ainda assim, que neste período a CMH mantém “um crescimento sustentável” e pretende apostar em melhorar a “eficiência na gestão”.
“Esperamos continuar a proporcionar dividendos aos acionistas nos próximos anos”, lê-se ainda.
A CMH desenvolve a atividade operacional de produção petrolífera e é controlada pela estatal Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, que detém 70% do seu capital social e foi indicada pelo Governo moçambicano para, juntamente com a sul-africana Sasol Petroleum Temane (SPT), conduzir as operações petrolíferas nas áreas dos campos de produção de Pande e Temame, por um período de 30 anos, ao abrigo do Acordo de Produção de Petróleo assinado em outubro de 2000.
A petrolífera também faz parte dos Acordos de Operações Conjuntas assinados com a SPT em dezembro de 2002, cobrindo os reservatórios dos campos de Pande e Temame, já que a empresa produz e vende apenas gás e opera de forma integrada.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado, além do operado pela Eni, a única em produção, também a Mozambique LNG (Área 1), operado pela TotalEnergies, até 43 milhões de toneladas por ano (mtpa), e Rovuma LNG (Área 4), operado pela ExxonMobil, com 18 mtpa, ambas em fase de desenvolvimento.
Em 2024, um estudo da consultora Deloitte concluiu que as reservas de gás de Moçambique representam receitas potenciais de 100 mil milhões de dólares (96,2 mil milhões de euros).
Só este ano, ainda sem a entrada em funcionamento das restantes operações, a produção moçambicana estimada de gás é de 5,4 mil milhões de metros cúbicos, o sexto maior produtor em África.
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